quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

A profecia traída dos músicos da Dipanda


Um outro leque de artistas desse período, com temas dedicados ao momento histórico, deixaram de ser difundidos a partir de uma certa altura, tais como: David Zé, Urbano de Castro, Artur Nunes, Teta Lando e outros, por razões que, nem mesmo quando o discurso tende a ser de reconciliação, têm explicação.
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Quase todo o cidadão de sã consciência nesta época de celebração nacional espera escutar Mirol, no seu "Independência está a chegar", a dizer que a terra vai resplandecer e ninguém mais vai chorar porque o sofrimento terá fim: o famoso grito "Independência" é quase obrigatório nos anúncios dos festejos do Dia Nacional de Angola, mas poucos sabem que pertence a Manuel Claudino Manuelito, na altura baixista dos Kissanguela. Carlos Lamartine em "Ó dipanda wondo tulakiá" vai na mesma linha do músico invisual Mirol e agradece a Agostinho Neto.
É importante um olhar à sociedade angolana da altura, com os três movimentos de libertação a tentarem ganhar vantagens. Se o MPLA, segundo os entendidos, não estava muito forte no campo militar, levava a melhor no quesito propaganda, tendo a música como arma letal para desmoralizar os oponentes.
Era normal os artistas manifestarem apoio aos movimentos da sua preferência, tal como os adeptos de um clube de futebol, apesar de muitos deles, hoje, afirmarem terem sido sempre do movimento que proclamou a Independência no Largo 1º de Maio, o MPLA, facto que desconcerta Soky dya Nzenze: "Eles sabem quem são. Olhem para as obras e facilmente saberão quem sempre esteve na linha da frente da música de intervenção e os oportunistas."
A nossa fonte apresentou um dado que ajuda a compreender a linha de muitos intervenientes da canção política, com o surgimento dos grupos políticos e ideológicos designados como elementos que compunham a Frente Interna do MPLA, nomeadamente a Organização Comunista de Angola - OCA, os comités Henda e Amílcar Cabral, o movimento estudantil e, mais tarde, alguns elementos provenientes dos CIR - Centros de Instrução Revolucionária, que conceberam a linha de actuação dos artistas e grupos. Como exemplo, do Instituto Industrial de Luanda basicamente emergiram “Os Angolenses”, já “Os Kissanguela” eram mais inclinados aos comités juvenis, enquanto o “Agrupamento Aliança Fapla-Povo” aos CIR. Uma outra corrente de artistas individuais provenientes de Portugal e de um meio mais urbano era ligada à OCA. Todos cantavam em prol do MPLA.
A Unita teve cantores simpatizantes seus em Millá Mello, Katchiungo e Poeira; a FNLA também teve, com destaque para Teta Lando, apesar deste apresentar um discurso mais integrador. Mas a verdade é que a maioria dos músicos assumia a camisa vermelha da família MPLA.
Soky dya Nzenze realça o seguinte: “É importante dar a conhecer que antes desta época a música de contestação ao colono foi marcada com temas como ‘Milhórro’ dos Kiezos,‘Viva Lusitânia’, de António Paulino, ‘Kimbemba’, de Teta Lando, e outras”.
A fonte acrescenta, no entanto, que o tema "Kinjangu", do início do Século XX, já lançava a mensagem de contestação e de aspiração à libertação do jugo colonial. Soky dya Nzenze reforça a relevância de "Viva Lusitânia", que satiriza a presença do famoso paquete e dos turistas: "Eles vêm de longe andando na cidade alegres, enquanto eu estou sem nada”. Segundo Dya Nzenze, algumas pessoas “pensavam que a canção era de afecto ao regime colonial, exaltando os lusitanos ou a empresa de transporte, mas não. Era mesmo revolucionária.”
O Conjunto Nzaji deixou a sua impressão digital, reconhece o nosso interlocutor, referindo-se aos temas “Kaputu”, “Difuimu”, “Deba” e outros gravados na República da Bulgária nos anos 60. Ruy Mingas com "Monangambé", "Xiami" e "Muimbu ya Sabalu" (letra de Mário Pinto de Andrade que fala do filho caçula que foi para São Tomé) integra também o lote de cantores da libertação. Da parceria com Manuel Rui Monteiro, que resultou no hino "Angola Avante", tem ainda "Meninos do Huambo", tema que fala das conquistas da Independência, insinuando que "até as estrelas já são do povo". Filipe Zau e Filipe Mukenga atingiram as mentes dos mais pequenos, cantando que os meninos depois do jantar foram para o quintal cantar e ouvir estórias antigas, num exercício de construção ideológica do Futuro da Nação.
O compositor de "Malalanza", interpretada por Carlos Burity, diz que o jovem Zecax, pouco citado e tocado nos dias da celebração da Independência, com “Colono ua Tujiba”, provavelmente instrumentalizada pelo Luanda Show e lançada depois da morte do nacionalista Pedro Benge, também deve ser colocada, historicamente, na primeira linha das canções de intervenção. “Este tema de contestação é muito forte, um grito para que os colonos deixassem a nossa terra e recordava amigos assassinados e presos pelo regime salazarista. Depois do 25 de Abril, a morte de Pedro Benge inspirou vários artistas”, reforça a nossa fonte.

Mais canções
Em contacto com a discoteca da Rádio Nacional de Angola, numa pesquisa por concluir, encontramos mais de 500 músicas com título e referência ao 11 de Novembro e à Independência Nacional. Destacamos aqui o Conjunto Bela Negra, Conjunto Estrela do Povo, de Malanje, liderado por Makú, e a orquestra Os Malucos; quanto aos artistas individuais mencionamos Prado Paim, Belita Palma, Mauro Nascimento com “Dipanda dya Ngola”, “Canção do Homem Novo” e “Cambuta”; Matadidi com “Obrigado Agostinho Neto”, André Mingas com “Pecado em Novembro”, Rui Mingas com “Mamã Terra”, Carlos Lamartine "Rumo à Independência” e Joy Artur “Xietu ya Tambula".
Mencionamos ainda Zé Agostinho com “Noite Longa”, Gimba com "Ofeka yetu Ombembwa (Spínola)”, Nito Nunes com “Ngola Kiluanji”, El Belo com “Ekongelo” e “Hoje é dia de revolução”, Elias  dya Kimuezo com “Dipanda didi diolo kuiza" e "São Nicolau" e Zé da Onda com “Vitória”. Da longa lista, que não caberia neste espaço, trazemos para aqui ainda Cajó Pimenta,Tonito, Artur Adriano, Tanga, Buarque, Camarada Bidon, Zé Viola e Carlos Burity.
Passada a fase da forte carga política, outras composições surgiram e aqui o destaque vai para "Novembro", uma composição de Carlos Ferreira "Cassé" interpretada por Eduardo Paim, de que retemos: "Novembro chegou, com o dia da liberdade"... Importa salientar que deste período, nos estúdios da RNA podemos encontrar outros registos na mesma linha e nem mesmo os cantores piôs deixaram de cantar temas da Independência. "Ngola", dos Kafala Brothers, mostra o lado determinante dos trovadores, com forte presença da Brigada Manguxi.

Os instrumentais
As referências não ficam apenas pelas vozes. Não é por acaso que "Angola Popular" é um instrumental dos Kissanguela, com solos de Nito, hoje artisticamente Belmiro Carlos. O grupo tem ainda o tema "Solos de Maqui".
Outros registos nessa linha são, do agrupamento Os Anjos, "Angola Rumo ao Socialismo", marcado pelos solos de Jajão,  "Avante Juventude" e "Benguela Libertada", de Boto Trindade, "Brinde", de Vinicius Júnior, dos Angolenses, e "Rufo da Liberdade", de Zé Keno.

"Não canta política"
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Waldemar Bastos foi assertivo ao cantar e eternizar o alerta da "Velha Chica": "Xê menino, não fala política", seguido do suspiro de alívio: "Já posso morrer, já vi Angola Independente".
No entanto, para quem está ciente da história da música popular urbana angolana, a vontade de ir para o além sem o esclarecimento de determinadas narrativas é preocupante. "Velha Xica", tema do álbum "Estamos Juntos", lançado anos depois da Independência, pode ajudar na reflexão de um olhar sobre a namorada Angola, muito e tão bem cantada. O cantor que celebra a Independência com a realidade vivida pela Velha Xica, preconiza o mesmo com os ventos da democracia. Curiosamente, Waldemar Bastos há muito que deixou de cantar a canção "Velha Chica", mas na terra que a anciã viu finalmente Independente, e que obviamente é também a sua, ele acabou por conquistar, este ano, o Prémio Nacional de Cultura e Artes na categoria de Música, talvez um indicador para que "Velha Xica" volte a ser cantada e ouvida mais vezes na terra que o cantor carrega na muxima.

Discos fundamentais
Três LP que marcam a época em referência e ajudam a compreender o uso e a função social da música e dos artistas, são "Independência", "Angola Ano 1" e "Mutudi ya ufolo", respectivamente de Teta Lando, Carlos Lamartine e David Zé. Os discos foram gravados pelo conjunto Os Merengues, na altura o "dream team" da música angolana, onde pontificavam Carlitos Vieira Dias, Zé Keno, Zeca Tirilene, Vate Costa e Joãozinho Morgado, dentre outros instrumentistas afectos à CDA-Companhia de Discos de Angola, detentora dos Estúdios Norte.
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Teta Lando - LP Independência. Com mensagens para a união e o combate ao racismo, presentes em canções como "Ame o teu irmão", "Angolano segue em frente, "Pele Negra" e "FNLA e MPLA", este LP foi considerado Disco de Ouro. Nele constam as canções "Cecília", "Lulendo Mpaxi", "Luvuvamo", "Lembele Lembele", "Poto Poto - Barro" e "Menina de nove anos". Facto digno de realce e bastante revelador, na contracapa deste disco está uma imagem de Holden Roberto.
Teta Lando, então com forte inclinação à FNLA, deixou o país depois da Independência, tendo regressado em 1987 aquando do Fenacult.  Mais tarde tornou-se presidente da UNAC, sendo tido no seio da classe como bastante conciliador.
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Com sucessos como "Dipanda wondo tula kiá", Carlos Lamartine, com "Angola Ano 1", álbum histórico com apenas 100 exemplares prensados, faz um forte apelo à Independência, mas difere do disco de Teta Lando porque faz uma clara exaltação aos feitos do MPLA. O artista,  no tema "Etu tuana Ngola tua solo kia", primeiro do lado A, diz que "nós, os filhos de Angola, já escolhemos o nosso Movimento, que é o MPLA".
"Faço-te este apelo, camarada", "Zambi Zambi", "Muiji imoxi imoxi" ("Um só Povo, Uma só Nação"), "Guia para a libertação de África" e a comovente "Zuatenu milele ia xikelela" ("Vistam-se de panos pretos"), completam o lado A. No lado B encontramos "Ngola Kiluanji", "Acorda Lumumba",  "Ngana Ngana fuma ia diala ngongo", "Ene ando builée" ("Eles hão-de se cansar"), "Ene adia losso" ("Eles querem comer tudo") e "Uengi bualaié".
Um outro tema que marca  o cancioneiro de Carlos Lamartine, na altura - 1975/1976 - também membro da organização juvenil do MPLA, é "Pala ki nu a bessa ó muxima", um hino à liberdade, como é possível auferir numa tradução livre de Soky dya Zenze, que simplificou do seguinte modo: "Para acalentar os vossos corações, venho cantar aqui, não preciso do vosso dinheiro e estou aqui sentado para que digam que esta vida não é uma brincadeira. Paguem as vossas dívidas, olha quem desperta-vos é vosso amigo". 

Trio da Saudade
Por limitação de espaço, do considerado Trio da Saudade optamos pelo impactante LP "Mutudi ya Ufolo" ("Viúva da Liberdade"), de David Zé, um mukuaxi, expressão patriótica que significava "dono" da terra. "Esta palavra também era uma espécie de senha, aqui em Luanda, para os jovens das zonas libertadas como o Cazenga, Rangel, Golfe, Calemba e mais tarde o Sambizanga", segundo Dya Zenze.
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David Zé, depois de cimentar a sua posição no meio musical, sendo dos mais requisitados para concertos, com vários singles lançados, no limiar da Independência optou também pela música de cariz político-revolucionário. Nesta obra, "Mutudi ya Ufolo", encontramos "Mana ku dile", "As cinco nações", "Ngongo nua Ngola", "Tribalismo", "Ufolo", "Katete njila", "A luta continua", "Mona ku jimbe manhenu", "Undengue Uami", "Nguma" e "Kamba djami". Um grande mobilizador de massas, daí o facto de ter sido comissário político das ex-FAPLA, esteve na origem do Agrupamento Aliança Fapla-Povo, conjunto que produziu todo um manancial de temas musicais com forte carga ideológica de apoio ao regime vigente. David Zé, Urbano de Castro e Artur Nunes, com a sua arte musical, conquistaram não apenas a população mas também a classe política dirigente com temas como "Revolução de Angola", "Ua ué Muangola", dentre outros. O trio também deixou marcas no início do processo de transição para a independência, apelando à união dos movimentos de libertação nacional e depois arremessando balanços harmônicos aos oponentes do MPLA. As suas mortes trágicas no processo subsequente ao 27 de Maio de 1977 não podem ser apenas consideradas impactantes na canção revolucionária, mas também como um revés com efeitos duradouros na música, em particular, e na cultura angolana, em geral. 
David Zé, Artur Nunes e Urbano de Castro, antes da fase FAPLA-Povo ainda apresentam nas suas letras alguns rasgos a propor a unidade entre os três movimentos. Em "Guerrilheiro", David Zé canta: "Se ês do MPLA interessa a todo Mundo, se ês da FNLA também já interessa a alguém e se ês da UNITA tambem já interessa a alguém, um só Povo uma só Nação, abaixo a desunião".
Urbano de Castro em "Rumba Negra" e "Angola África" evidenciam igualmente este lado, de acordo com Soky dya Nzenze. "Com o slogan 'Urbanito angolano' e a resistência ao uso da identificação portuguesa, Urbano de Castro quando jovem já era uma pessoa politicamente consciente, com carácter, convicto e decidido", realça o nosso interlocutor.

"Obrigado Camarada"
Matadidi Mário não apenas cantou a Independência e a fase da revolução. Foi um revolucionário no cenário musical angolano. O nosso “James Brown from Kinshasa”, com a sua Orquestra Inter-Palanca, expressou em temas como "Obrigado, Agostinho Neto (11 de Novembro)" e "Volta Camarada", a mensagem mobilizadora para os angolanos residentes no Zaire (actual RDC), e não só. "Bakokosa po bakosa" ("Mentir por mentir") e tantas outras canções marcam este período. O seu companheiro Diana Spray, com "Angola Nova" e "Valódia", também não pode ser esquecido.
Santocas, com "Massacre de Kifangondo" e "Heróis serão vingados", não esconde o seu lado de cantor-militante do MPLA. Santos Júnior, um outro grande senhor da canção revolucionária, consolidou a sua posição no conjunto Kisanguela com temas como "Estrangeiro", "Atu mu jiba", e outros.
"Os Angolenses", que surgiram após o 25 de Abril de 1974 na Escola Industrial Oliveira Salazar, também tem uma posição marcante na música feita nos primórdios da Angola independente. "África do Magreb ao Zimbabwe", que fala da implementação do poder popular em África e o fim do imperialismo, "Alegria pela via escolhida", "Obrigado Camarada Presidente", "Obscurantismo e miséria jamais", "Internacionalistas", "Mua Ngola mua vulalela" e  "Continuação da nossa luta" são algumas canções com as quais Armando Ferreira, Nelson Costa, Vinicius Júnior, Titino Massano, Pitra Neto, Chico Coio, Celino Bonzela e mais tarde Dulce Trindade, Zecax, Alfredo e outros definiram a sua posição na história da canção independentista.
Os Kissanguela, ou Kisangela, como pudemos encontrar em duas capas de discos do grupo, fazia parte das deslocações oficiais do Presidente da República de Angola. Com Mário Silva como vocalista principal, Fató, Tollingas, El Belo, Calabeto, Santos Júnior, Artur Adriano, Tonito, Avozinho, Candinho, Tino dya Kimuezo e outras vozes que marcam a canção revolucionária do MPLA, exaltavam os feitos do Partido-Estado e atacavam os opositores, existentes ou eventuais. Escute-se "MPLA ueia", "Nvunda ku África", "Tua kua fua" e "Ministro gatuno" (uma referência a Samuel Abrigada, ministro das Finanças pela FNLA no Governo de Transição). O nome Kisangela foi atribuido por Elias dya Kimuezo.
Agrupamento Aliança-Fapla Povo. Outra referência e um viveiro de artistas, o Trio da Saudade (David Zé, Urbano de Castro e Artur Nunes) despontou nesta formação que emergiu no maquis e depois estabeleceu-se na urbe integrando músicos de outras formações, como Chico Montenegro, Carlos Timóteo "Calilii", Mauro do Nascimento, Hildebrando de Jesus, Habana Mayor, Nandinho (Nanutu), Massy, Robertinho, Prolétario, Pepetito e Nonó Manuela, dentre outros hoje consagradíssimos.
Poucos hoje relacionam Carlos Burity e Pedrito com a canção política, no entanto eles também deixaram marcas suas nos tempos do fervor revolúcionário. Burity com "Liberdade África" e "Meu povo usa caminhar", enquanto Pedrito com "África" e "Gika" fazem uma ruptura. Carlos Burity tem em "Maria das Bichas" e "João da Graxa" outros marcos no quesito crítica social. Por seu lado Pedrito, em "Militante" e "Senhor Director", critica a corrupção, a falta de coerência e de autoridade, dentre outros males já então vigentes.
Se Toy Salgueiro ganha visibilidade com "Tentativas", que fala das dificuldades para manter o lar, é Santocas que faz uma autêntica virada, optando pela crítica social com fortes laivos de sarcasmo. Depois de se consagrar com os impactantes "Valódia", "Massacre de Kifangondo" e "Heróis serão vingados", recupera o espírito de “Bairro indígena” e surge  revigorado com "Marçal" e "Matrimônio". Importa salientar que, já na época da Dipanda, em “Poder Popular" Santocas corajosamente afirmava: "O poder popular é a causa dessa confusão"...

Bonga: amor e ódio 
Resultado de imagem para Bonga angola 1972Bonga, também conhecido como Zeca do Marçal, o velocista e homem dos Kisueias, onde também despontava Carlos Lamartine, é outra voz que muito cantou em prol da Independência.  O seu disco "Angola 72" espelha um jovem insatisfeito com o estado de coisas: "Balumukeno" é um grito de despertar para a luta contra o jugo colonial. "Paxi ni ngongo", "Mona ki ngi xiça", "Uengi dya Ngola" e os demais temas deste álbum são de consumo obrigatório para a compreensão não apenas da obra de Barceló de Carvalho, como do uso da canção como inspiração de luta. Depois da Independência Bonga representou Angola em vários palcos, até um período de muita frieza das suas relações com o poder instituído em Angola, marcado sobremaneira pelo disco "Reflexão", publicado em finais dos anos 1980, e agravado com a sua participação na campanha eleitoral da UNITA em 1992. Bonga é uma das vozes que mais cantou em prol da Independência, Democracia, Liberdade e outros anseios dos angolanos, através de sátiras ou recados de forma contínua, influenciando assim várias gerações de angolanos.
As mensagens do músicos que cantaram a dipanda com todo o fervor revolucionário tinham um denominador comum, magnificamente sintetizado por Mirol há mais de 43 anos: a terra vai resplandecer. Essa profecia viria a ser tragicamente traída por uma geração de políticos, eventualmente a mesma dos músicos em referência, que apostou em projectos de poder total, à custa da exclusão do outro e da destruição da terra que devia resplandecer.
*Este trabalho foi possível graças à colaboração da directora da discoteca da RNA, Bela de Carvalho, e da dupla de tias Jacinta Hamilton e Filomena Sapalo, além de António Clara e Madalena Alexandre, que muito facilitaram este encontro com as canções da Dipanda.

Fonte. Jornal de Angola 11 de Novembro de 2018

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