domingo, 29 de dezembro de 2019

Banda Maravilha garante suporte de espectáculo

A Banda Maravilha e os cantores Calabeto, Dina Santos e Robertinho actuam, hoje, a partir das 16h00, no Centro Cultural Zango das Artes, num concerto de entradas gratuitas, no seguimento de mais uma edição do projecto “Mais Semba Festival”, produzido pela Onart e Fundação Sindika Dokolo.


Segundo João Vigário, da organização, a presença dos artistas no Zango é, também, uma forma de proporcionar arte e cultura fora dos grandes centros urbanos e aproximar os artistas a um público que tem poucas ofertas culturais.
A iniciativa é um “ensaio” do que será o festival anual de Semba, que faz parte das actividades paralelas da Bienal da Paz, que aconteceu em Setembro, em Luanda.
O festival é uma plataforma cultural da Fundação Sindika Dokolo, que se consubstancia na produção de eventos que evidenciam o semba e as variantes deste estilo musical, buscando alcançar a legitimação identitária do género, no contexto da promoção e divulgação da música angolana.
Os organizadores pretendem que seja um evento inclusivo e participativo, considerando o “Mais Semba Festival” como uma plataforma que emerge como uma proposta de promoção, valorização e estudo dos sintomas da cultura angolana.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Bonga em grande no Show do Mès e Muzonguê da Tradição

Bonga mostrou, mais uma vez, um talento único em palco, nas últimas edições do ano do “Show do Mês” e Muzongué da Tradição, em actuações onde revelou grande capacidade artística e jovialidade, mesmo aos 77 anos, e que vão ficar na memória de quem presenciou e dos ausentes, pelos relatos.



O cantor, que está em Luanda, desde quarta-feira passada, colocou “fogo na kangica”, de uma forma literal, sábado, no Centro de Convenções de Belas (CCB), no fecho da VI temporada do “Show do Mês”, denominado “Encontro com a Tradição”.
O espectáculo, realizado pela segunda vez fora do Royal Plaza, abriu “as portas ao público” com o instrumental “Bonguinha”, uma proposta do guitarrista Betinho Feijó. A viagem não ficou apenas pela música, em intervalos histórias das vivências entre os dois foram contadas. O artista Jorge Mulumba também juntou-se à festa, ao ritmo dos instrumentos tradicionais.
No encontro, que serviu, ainda, para unir vários segmentos da sociedade, Bonga percorreu temas que marcam o percurso artístico, cujo marco é o LP “Angola 72”, numa “aula magna” de música angolana, encerrada com “Jingonça” e um “assalto ao Carnaval”.



O mesmo tema foi o escolhido para encerrar, no domingo, a última edição deste ano do Muzongué da Tradição, realizada no Centro Recreativo e Cultural Kilamba, numa tarde com alinhamento musical mais reduzido, mas com presença acentuada do público.
A sentir-se em casa e valorizando o espírito das festas dos musseques, Bonga levou ao antigo Salão Maria da Escrequenha os maiores êxitos da carreira. “É bom regressar”, disse, no final do espectáculo, que teve como principais referências temas como “Marika”, “Kisselenguenha”, “Kamacove”, “Kambuá”, “Sambila”, “Fruta de Vontade” e “Homem do Saco”.


Com lotação esgotada, esta edição do Muzongué contou, também, com a participação de Massano Júnior, Lulas da Paixão e Givago, com o acompanhamento da Banda Movimento. O espectáculo abriu com Mister Kim, da Banda Movimento, a interpretar temas de Zé Kafala, numa homenagem a um dos mais destacados trovadores angolanos.
Depois foi a vez de Dorgam mostrar talento em “Zito Monami”, de Clara Monteiro, e Teddy Nsingui reviver alguns solos do Instrumental 1º de Maio. Massoxi e Kintino também actuaram. Embora afastado dos palcos, Massano Júnior brilhou em temas como “Meninas de Hoje”, “Kizua”, “Anami”, “Balabina” e “Sunga Sunga”. Já Lulas da Paixão apresentou como proposta “Pepé”, “António”, “Garan” e “Nga Maka”. O último convidado, Givago, encantou a plateia com “Avô Teté” e “Ramiro”.

domingo, 22 de dezembro de 2019

Êxitos de Carlos Burity revisitados em concerto

Duas gerações diferentes partilharam o palco, no sábado, para encerrarem a III temporada dos Duetos N’Avenida, na Casa 70, em Luanda, com as cantoras Patrícia Faria e Gersy Pegado a unirem as vozes para homenagear, durante duas horas, Carlos Burity.
 












Diferente das anteriores propostas, onde os artistas partilham músicas, neste espectáculo, o último deste ano, as artistas, que despontaram nas Gingas do Maculusso, interpretaram temas do homenageado. 

 

Diferente das anteriores propostas, onde os artistas partilham músicas, neste espectáculo, o último deste ano, as artistas, que despontaram nas Gingas do Maculusso, interpretaram temas do homenageado

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 O concerto abriu com “Maria Alucase”. Depois Carlos Burity subiu ao palco para interpretar “Ilha de Luanda”, sucesso que tem conseguido ultrapassar gerações. A viagem pela obra do homenageado teve como prioridade os sucessos dos últimos 20 anos, deixando temas que nos finais dos anos 1970 e 80 marcaram o artista. A única excepção foi a inclusão de “Liberdade de África”, num alinhamento onde não constaram “Especulação”, “Maria das Bichas” e “Zé da Graxa”, temas que na década de 80 ajudaram a consolidar a carreira de Carlos Burity. O espectáculo terminou com um sucesso do passado, que também consta na discografia actual do músico, “Manazinha”. Porém, êxitos como “Lamento do contratado”, “Tia Joaquina”, “Jingonça do macaco”, “Minga”, “Mukajiami” e “Malalanza” fizeram parte do reportório.




Com Lito Graça, na dicanza e coros, Texas e Mayó, nos solos e baixo, juntou-se Marito Furtado (bateria), Isaú Baptista (solo), Miquéias Ramiro (teclado) e Djanira Mercedes (coros), da Banda Maravilha, para dar vida a esta homenagem em que Chalana Dantas não ficou apenas com a direcção artística, tomou, também, os tambores.


Maneco Vieira Dias, da direcção da União dos Artistas e Compositores, entregou o diploma de reconhecimento ao homenageado e destacou o papel e a importância que teve na afirmação da música angolana. No final, Figueira Ginga, da Zona Jovem, a organizadora, prometeu regressar em Fevereiro do próximo ano com o projecto e continuar a prestigiar artistas nacionais.


O concerto abriu com “Maria Alucase”. Depois Carlos Burity subiu ao palco para interpretar “Ilha de Luanda”, sucesso que tem conseguido ultrapassar gerações. A viagem pela obra do homenageado teve como prioridade os sucessos dos últimos 20 anos, deixando temas que nos finais dos anos 1970 e 80 marcaram o artista. A única excepção foi a inclusão de “Liberdade de África”, num alinhamento onde não constaram “Especulação”, “Maria das Bichas” e “Zé da Graxa”, temas que na década de 80 ajudaram a consolidar a carreira de Carlos Burity. O espectáculo terminou com um sucesso do passado, que também consta na discografia actual do músico, “Manazinha”. Porém, êxitos como “Lamento do contratado”, “Tia Joaquina”, “Jingonça do macaco”, “Minga”, “Mukajiami” e “Malalanza” fizeram parte do reportório.



Com Lito Graça, na dicanza e coros, Texas e Mayó, nos solos e baixo, juntou-se Marito Furtado (bateria), Isaú Baptista (solo), Miquéias Ramiro (teclado) e Djanira Mercedes (coros), da Banda Maravilha, para dar vida a esta homenagem em que Chalana Dantas não ficou apenas com a direcção artística, tomou, também, os tambores.
Maneco Vieira Dias, da direcção da União dos Artistas e Compositores, entregou o diploma de reconhecimento ao homenageado e destacou o papel e a importância que teve na afirmação da música angolana. No final, Figueira Ginga, da Zona Jovem, a organizadora, prometeu regressar em Fevereiro do próximo ano com o projecto e continuar a prestigiar artistas nacionais.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Palco do Semba Patrícia Faria

Cerca de um mês depois do lançamento do seu mais recente disco De Kaxexe, a 7 de Outubro,  Patrícia Faria é a proposta para a edição do mês de Novembro do Palco do Semba. Ricardo Lemvo foi a última passagem do projecto, que acontece no Jango da União dos Escritores Angolanos.
Patrícia Faria é uma mulher de múltiplas tarefas, autêntica showoman do semba, intérprete de sucessos antigos como autor Caroço Quente”, “Kibela”, “Triste Amargura”, “Zanga Kalunga”, “Eme Kia” “Papa Wa Jimbidila” e “Cama e mesa” (Pacheco), como os novos temas onde destaca-se “De Kaxexe”, uma versão de “Maximbonbo”.
A cantora cresceu num ambiente musical, ainda criança fez parte das Gingas do Maculussu, fazendo com a mesma a transposição para uma solida carreira no meio musical nacional. Antecederam Kaxexe , os discos Eme Kya (2003) e Baza Baza (2006).
Paty Faria, como também é conhecida, foi a primeira mulher a conquistar o Top dos Mais Queridos com o álbum Emé Kya, obra também premiada como Melhor Produção Discográfica, Voz Feminina do Ano,  e Semba do Ano, no Top Rádio Luanda, assim como o de Melhor Intérprete Feminina no Moda Luanda.
De salientar que em paralelo a carreira musical, tem a Patys Griff, especializada em trajes africanos e angolanos. Licenciada em Direito é advogada de profissão, radialista, e recentemente assumiu a liderança da Casa de Cultura do Rangel Nzinga A Mbandi.
O Palco do Semba é um projecto dos Tios e da Leinunes Áudio e acontece no primeiro domingo de cada mês. Este ano desfilaram no evento  Ricardo Lemvo, Moniz Almeida e Jojó Gouveira, Robertinho, Paulo Flores e Tito Paris, Os Jovens do Prenda, Os Kiezos, Kyaku Kiadaff e Yola Semedo.

Phathar Mak e amigos em concerto no Zango

O rapper Phathar Mak realizou, no passado sábado, no Zango, Viana, um espectáculo, muito bem recebido pelo público local, em que convidou também Os Tuneza, Calado Show, os BMA e Rasheed Meduso.



Rapper cria projecto para aproximar os artistas do público


Fotografia: DR
Numa iniciativa conjunta com a produtora Onart, o espectáculo, realizado no âmbito do projecto “Encontro com a Comunidade”, teve grande recepção pública, mesmo com o atraso de uma hora e problemas com o som. 
Entre os sucessos do rapper, o destaque foi para “Amizade”, “Grande Dia”, “My Real Niggaz ”, “Prova dos 9”, “História”, “Respeito” e “Somente Palavras”, alguns dos quais acompanhados pela banda do artista, constituída pelo DJ Edson (scratch), KD (baixo), Moisés (teclados), Nsango (solo), Jack (bateria), Sensei BJS, Toddi e Heróide (coristas).
A abertura do espectáculo esteve a cargo da dupla BMA, jovens integrantes do movimento hip hop do Zango, que estão a conquistar espaço no mercado. O rapper Rasheed Meduso, filho do cantor Kool Klever, demonstrou que está a seguir os passos do pai, mas com uma linha própria.
Os Tuneza, um dos grupos convidados mais esperados, estiveram à altura da expectativa dos fãs. Cage One foi o único artista anunciado que não actuou, enquanto o humorista Calado Show, que não constava no cartaz, conseguiu “roubar” inúmeros aplausos do público. No final, pela receptividade do público, Os Tuneza e Calado Show mostraram interesse em voltar a actuar no Zango.
A próxima edição do projecto “Encontro com a Comunidade” está prevista para 7 de Dezembro, no espaço Aplausos do Sequele. Para Phathar Mak, é uma oportunidade de aproximar mais os artistas do público. “Não é um projecto limitado apenas ao entretenimento. Queremos ir mais além e chamar a atenção das pessoas para a importância do respeito pela cidadania”, disse o cantor.
A iniciativa, explicou, é sequência de outra, denominada “Encontro com a Periferia”, que o ajudou a ser reconhecido pelo Conselho Nacional de Juventude como o embaixador na luta contra a delinquência juvenil. “O objectivo é levar artistas de referência ao encontro das comunidades, num movimento sociocultural inclusivo”, aclarou o cantor, um dos pioneiros do hip hop angolano.

Filipe Mukenga e Selda criam “laços” em palco



Filipe Mukenga e Selda, duas vozes de gerações diferentes, foram as principais atracções de mais uma edição do projecto Duetos N’Avenida, realizada sábado último, na Casa 70, em Luanda.
Em duas horas, foi feita uma viagem ao percurso artístico de Filipe Mukenga, cantor que no início dos anos 80 propôs um estilo novo ao qual denominou “Nova Música de Angola”, e de Selda, cujo reconhecimento veio do espaço conquistado nos circuitos de música.
Os artistas Mário Gomes (guitarra solo), Nino Jazz (teclados), Jack (bateria), Wilder (baixo) e Yasmane Santos( percussão) fizeram o suporte instrumental. O concerto começou ao som de “Nvula”, inicialmente na voz de Selda a qual juntou-se, minutos depois, Filipe Mukenga.
Depois das saudações, o público ouviu temas como “Balabina”, “Weza”, “Carnaval de Março”, “Lemba” e “Yalta”. Durante a actuação, Filipe Mukenga convidou Katiliana Capindiça, artista que nos últimos dois anos apareceu no circuito nacional, para juntos interpretarem “Fruto Maduro”.
O dueto prosseguiu entre Filipe Mukenga e Selda em temas como “Ndilokewa”, “Aquela Rua”, “Angola no Coração”, “Humbi Humbi”, “Dikixi”, “Eu Vi Luanda”, com a qual encerraram esta edição. O projecto Duetos N’Avenida regressa, depois desta proposta mais ligada ao afro jazz, no dia 14 de Dezembro, com o semba, a ganhar vida, nas vozes de Carlos Burity, Gersy Pegado e Patrícia Faria.
O homenageado desta edição foi o cantor, produtor e compositor Eduardo Sambo, um dos mentores de Figueira Ginga e Chalana Dantas, como director executivo e artístico da Zona Jovem. Embora afastado dos palcos, o artista trabalhou com músicos de referência, como Filipe Zau, André Mingas, Rosa Roque, Afra Sound Stars e Banda Maravilha. Para a geração mais antiga, “A Nave”, como é conhecido, é uma referência.

A profecia traída dos músicos da Dipanda


Um outro leque de artistas desse período, com temas dedicados ao momento histórico, deixaram de ser difundidos a partir de uma certa altura, tais como: David Zé, Urbano de Castro, Artur Nunes, Teta Lando e outros, por razões que, nem mesmo quando o discurso tende a ser de reconciliação, têm explicação.
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Quase todo o cidadão de sã consciência nesta época de celebração nacional espera escutar Mirol, no seu "Independência está a chegar", a dizer que a terra vai resplandecer e ninguém mais vai chorar porque o sofrimento terá fim: o famoso grito "Independência" é quase obrigatório nos anúncios dos festejos do Dia Nacional de Angola, mas poucos sabem que pertence a Manuel Claudino Manuelito, na altura baixista dos Kissanguela. Carlos Lamartine em "Ó dipanda wondo tulakiá" vai na mesma linha do músico invisual Mirol e agradece a Agostinho Neto.
É importante um olhar à sociedade angolana da altura, com os três movimentos de libertação a tentarem ganhar vantagens. Se o MPLA, segundo os entendidos, não estava muito forte no campo militar, levava a melhor no quesito propaganda, tendo a música como arma letal para desmoralizar os oponentes.
Era normal os artistas manifestarem apoio aos movimentos da sua preferência, tal como os adeptos de um clube de futebol, apesar de muitos deles, hoje, afirmarem terem sido sempre do movimento que proclamou a Independência no Largo 1º de Maio, o MPLA, facto que desconcerta Soky dya Nzenze: "Eles sabem quem são. Olhem para as obras e facilmente saberão quem sempre esteve na linha da frente da música de intervenção e os oportunistas."
A nossa fonte apresentou um dado que ajuda a compreender a linha de muitos intervenientes da canção política, com o surgimento dos grupos políticos e ideológicos designados como elementos que compunham a Frente Interna do MPLA, nomeadamente a Organização Comunista de Angola - OCA, os comités Henda e Amílcar Cabral, o movimento estudantil e, mais tarde, alguns elementos provenientes dos CIR - Centros de Instrução Revolucionária, que conceberam a linha de actuação dos artistas e grupos. Como exemplo, do Instituto Industrial de Luanda basicamente emergiram “Os Angolenses”, já “Os Kissanguela” eram mais inclinados aos comités juvenis, enquanto o “Agrupamento Aliança Fapla-Povo” aos CIR. Uma outra corrente de artistas individuais provenientes de Portugal e de um meio mais urbano era ligada à OCA. Todos cantavam em prol do MPLA.
A Unita teve cantores simpatizantes seus em Millá Mello, Katchiungo e Poeira; a FNLA também teve, com destaque para Teta Lando, apesar deste apresentar um discurso mais integrador. Mas a verdade é que a maioria dos músicos assumia a camisa vermelha da família MPLA.
Soky dya Nzenze realça o seguinte: “É importante dar a conhecer que antes desta época a música de contestação ao colono foi marcada com temas como ‘Milhórro’ dos Kiezos,‘Viva Lusitânia’, de António Paulino, ‘Kimbemba’, de Teta Lando, e outras”.
A fonte acrescenta, no entanto, que o tema "Kinjangu", do início do Século XX, já lançava a mensagem de contestação e de aspiração à libertação do jugo colonial. Soky dya Nzenze reforça a relevância de "Viva Lusitânia", que satiriza a presença do famoso paquete e dos turistas: "Eles vêm de longe andando na cidade alegres, enquanto eu estou sem nada”. Segundo Dya Nzenze, algumas pessoas “pensavam que a canção era de afecto ao regime colonial, exaltando os lusitanos ou a empresa de transporte, mas não. Era mesmo revolucionária.”
O Conjunto Nzaji deixou a sua impressão digital, reconhece o nosso interlocutor, referindo-se aos temas “Kaputu”, “Difuimu”, “Deba” e outros gravados na República da Bulgária nos anos 60. Ruy Mingas com "Monangambé", "Xiami" e "Muimbu ya Sabalu" (letra de Mário Pinto de Andrade que fala do filho caçula que foi para São Tomé) integra também o lote de cantores da libertação. Da parceria com Manuel Rui Monteiro, que resultou no hino "Angola Avante", tem ainda "Meninos do Huambo", tema que fala das conquistas da Independência, insinuando que "até as estrelas já são do povo". Filipe Zau e Filipe Mukenga atingiram as mentes dos mais pequenos, cantando que os meninos depois do jantar foram para o quintal cantar e ouvir estórias antigas, num exercício de construção ideológica do Futuro da Nação.
O compositor de "Malalanza", interpretada por Carlos Burity, diz que o jovem Zecax, pouco citado e tocado nos dias da celebração da Independência, com “Colono ua Tujiba”, provavelmente instrumentalizada pelo Luanda Show e lançada depois da morte do nacionalista Pedro Benge, também deve ser colocada, historicamente, na primeira linha das canções de intervenção. “Este tema de contestação é muito forte, um grito para que os colonos deixassem a nossa terra e recordava amigos assassinados e presos pelo regime salazarista. Depois do 25 de Abril, a morte de Pedro Benge inspirou vários artistas”, reforça a nossa fonte.

Mais canções
Em contacto com a discoteca da Rádio Nacional de Angola, numa pesquisa por concluir, encontramos mais de 500 músicas com título e referência ao 11 de Novembro e à Independência Nacional. Destacamos aqui o Conjunto Bela Negra, Conjunto Estrela do Povo, de Malanje, liderado por Makú, e a orquestra Os Malucos; quanto aos artistas individuais mencionamos Prado Paim, Belita Palma, Mauro Nascimento com “Dipanda dya Ngola”, “Canção do Homem Novo” e “Cambuta”; Matadidi com “Obrigado Agostinho Neto”, André Mingas com “Pecado em Novembro”, Rui Mingas com “Mamã Terra”, Carlos Lamartine "Rumo à Independência” e Joy Artur “Xietu ya Tambula".
Mencionamos ainda Zé Agostinho com “Noite Longa”, Gimba com "Ofeka yetu Ombembwa (Spínola)”, Nito Nunes com “Ngola Kiluanji”, El Belo com “Ekongelo” e “Hoje é dia de revolução”, Elias  dya Kimuezo com “Dipanda didi diolo kuiza" e "São Nicolau" e Zé da Onda com “Vitória”. Da longa lista, que não caberia neste espaço, trazemos para aqui ainda Cajó Pimenta,Tonito, Artur Adriano, Tanga, Buarque, Camarada Bidon, Zé Viola e Carlos Burity.
Passada a fase da forte carga política, outras composições surgiram e aqui o destaque vai para "Novembro", uma composição de Carlos Ferreira "Cassé" interpretada por Eduardo Paim, de que retemos: "Novembro chegou, com o dia da liberdade"... Importa salientar que deste período, nos estúdios da RNA podemos encontrar outros registos na mesma linha e nem mesmo os cantores piôs deixaram de cantar temas da Independência. "Ngola", dos Kafala Brothers, mostra o lado determinante dos trovadores, com forte presença da Brigada Manguxi.

Os instrumentais
As referências não ficam apenas pelas vozes. Não é por acaso que "Angola Popular" é um instrumental dos Kissanguela, com solos de Nito, hoje artisticamente Belmiro Carlos. O grupo tem ainda o tema "Solos de Maqui".
Outros registos nessa linha são, do agrupamento Os Anjos, "Angola Rumo ao Socialismo", marcado pelos solos de Jajão,  "Avante Juventude" e "Benguela Libertada", de Boto Trindade, "Brinde", de Vinicius Júnior, dos Angolenses, e "Rufo da Liberdade", de Zé Keno.

"Não canta política"
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Waldemar Bastos foi assertivo ao cantar e eternizar o alerta da "Velha Chica": "Xê menino, não fala política", seguido do suspiro de alívio: "Já posso morrer, já vi Angola Independente".
No entanto, para quem está ciente da história da música popular urbana angolana, a vontade de ir para o além sem o esclarecimento de determinadas narrativas é preocupante. "Velha Xica", tema do álbum "Estamos Juntos", lançado anos depois da Independência, pode ajudar na reflexão de um olhar sobre a namorada Angola, muito e tão bem cantada. O cantor que celebra a Independência com a realidade vivida pela Velha Xica, preconiza o mesmo com os ventos da democracia. Curiosamente, Waldemar Bastos há muito que deixou de cantar a canção "Velha Chica", mas na terra que a anciã viu finalmente Independente, e que obviamente é também a sua, ele acabou por conquistar, este ano, o Prémio Nacional de Cultura e Artes na categoria de Música, talvez um indicador para que "Velha Xica" volte a ser cantada e ouvida mais vezes na terra que o cantor carrega na muxima.

Discos fundamentais
Três LP que marcam a época em referência e ajudam a compreender o uso e a função social da música e dos artistas, são "Independência", "Angola Ano 1" e "Mutudi ya ufolo", respectivamente de Teta Lando, Carlos Lamartine e David Zé. Os discos foram gravados pelo conjunto Os Merengues, na altura o "dream team" da música angolana, onde pontificavam Carlitos Vieira Dias, Zé Keno, Zeca Tirilene, Vate Costa e Joãozinho Morgado, dentre outros instrumentistas afectos à CDA-Companhia de Discos de Angola, detentora dos Estúdios Norte.
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Teta Lando - LP Independência. Com mensagens para a união e o combate ao racismo, presentes em canções como "Ame o teu irmão", "Angolano segue em frente, "Pele Negra" e "FNLA e MPLA", este LP foi considerado Disco de Ouro. Nele constam as canções "Cecília", "Lulendo Mpaxi", "Luvuvamo", "Lembele Lembele", "Poto Poto - Barro" e "Menina de nove anos". Facto digno de realce e bastante revelador, na contracapa deste disco está uma imagem de Holden Roberto.
Teta Lando, então com forte inclinação à FNLA, deixou o país depois da Independência, tendo regressado em 1987 aquando do Fenacult.  Mais tarde tornou-se presidente da UNAC, sendo tido no seio da classe como bastante conciliador.
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Com sucessos como "Dipanda wondo tula kiá", Carlos Lamartine, com "Angola Ano 1", álbum histórico com apenas 100 exemplares prensados, faz um forte apelo à Independência, mas difere do disco de Teta Lando porque faz uma clara exaltação aos feitos do MPLA. O artista,  no tema "Etu tuana Ngola tua solo kia", primeiro do lado A, diz que "nós, os filhos de Angola, já escolhemos o nosso Movimento, que é o MPLA".
"Faço-te este apelo, camarada", "Zambi Zambi", "Muiji imoxi imoxi" ("Um só Povo, Uma só Nação"), "Guia para a libertação de África" e a comovente "Zuatenu milele ia xikelela" ("Vistam-se de panos pretos"), completam o lado A. No lado B encontramos "Ngola Kiluanji", "Acorda Lumumba",  "Ngana Ngana fuma ia diala ngongo", "Ene ando builée" ("Eles hão-de se cansar"), "Ene adia losso" ("Eles querem comer tudo") e "Uengi bualaié".
Um outro tema que marca  o cancioneiro de Carlos Lamartine, na altura - 1975/1976 - também membro da organização juvenil do MPLA, é "Pala ki nu a bessa ó muxima", um hino à liberdade, como é possível auferir numa tradução livre de Soky dya Zenze, que simplificou do seguinte modo: "Para acalentar os vossos corações, venho cantar aqui, não preciso do vosso dinheiro e estou aqui sentado para que digam que esta vida não é uma brincadeira. Paguem as vossas dívidas, olha quem desperta-vos é vosso amigo". 

Trio da Saudade
Por limitação de espaço, do considerado Trio da Saudade optamos pelo impactante LP "Mutudi ya Ufolo" ("Viúva da Liberdade"), de David Zé, um mukuaxi, expressão patriótica que significava "dono" da terra. "Esta palavra também era uma espécie de senha, aqui em Luanda, para os jovens das zonas libertadas como o Cazenga, Rangel, Golfe, Calemba e mais tarde o Sambizanga", segundo Dya Zenze.
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David Zé, depois de cimentar a sua posição no meio musical, sendo dos mais requisitados para concertos, com vários singles lançados, no limiar da Independência optou também pela música de cariz político-revolucionário. Nesta obra, "Mutudi ya Ufolo", encontramos "Mana ku dile", "As cinco nações", "Ngongo nua Ngola", "Tribalismo", "Ufolo", "Katete njila", "A luta continua", "Mona ku jimbe manhenu", "Undengue Uami", "Nguma" e "Kamba djami". Um grande mobilizador de massas, daí o facto de ter sido comissário político das ex-FAPLA, esteve na origem do Agrupamento Aliança Fapla-Povo, conjunto que produziu todo um manancial de temas musicais com forte carga ideológica de apoio ao regime vigente. David Zé, Urbano de Castro e Artur Nunes, com a sua arte musical, conquistaram não apenas a população mas também a classe política dirigente com temas como "Revolução de Angola", "Ua ué Muangola", dentre outros. O trio também deixou marcas no início do processo de transição para a independência, apelando à união dos movimentos de libertação nacional e depois arremessando balanços harmônicos aos oponentes do MPLA. As suas mortes trágicas no processo subsequente ao 27 de Maio de 1977 não podem ser apenas consideradas impactantes na canção revolucionária, mas também como um revés com efeitos duradouros na música, em particular, e na cultura angolana, em geral. 
David Zé, Artur Nunes e Urbano de Castro, antes da fase FAPLA-Povo ainda apresentam nas suas letras alguns rasgos a propor a unidade entre os três movimentos. Em "Guerrilheiro", David Zé canta: "Se ês do MPLA interessa a todo Mundo, se ês da FNLA também já interessa a alguém e se ês da UNITA tambem já interessa a alguém, um só Povo uma só Nação, abaixo a desunião".
Urbano de Castro em "Rumba Negra" e "Angola África" evidenciam igualmente este lado, de acordo com Soky dya Nzenze. "Com o slogan 'Urbanito angolano' e a resistência ao uso da identificação portuguesa, Urbano de Castro quando jovem já era uma pessoa politicamente consciente, com carácter, convicto e decidido", realça o nosso interlocutor.

"Obrigado Camarada"
Matadidi Mário não apenas cantou a Independência e a fase da revolução. Foi um revolucionário no cenário musical angolano. O nosso “James Brown from Kinshasa”, com a sua Orquestra Inter-Palanca, expressou em temas como "Obrigado, Agostinho Neto (11 de Novembro)" e "Volta Camarada", a mensagem mobilizadora para os angolanos residentes no Zaire (actual RDC), e não só. "Bakokosa po bakosa" ("Mentir por mentir") e tantas outras canções marcam este período. O seu companheiro Diana Spray, com "Angola Nova" e "Valódia", também não pode ser esquecido.
Santocas, com "Massacre de Kifangondo" e "Heróis serão vingados", não esconde o seu lado de cantor-militante do MPLA. Santos Júnior, um outro grande senhor da canção revolucionária, consolidou a sua posição no conjunto Kisanguela com temas como "Estrangeiro", "Atu mu jiba", e outros.
"Os Angolenses", que surgiram após o 25 de Abril de 1974 na Escola Industrial Oliveira Salazar, também tem uma posição marcante na música feita nos primórdios da Angola independente. "África do Magreb ao Zimbabwe", que fala da implementação do poder popular em África e o fim do imperialismo, "Alegria pela via escolhida", "Obrigado Camarada Presidente", "Obscurantismo e miséria jamais", "Internacionalistas", "Mua Ngola mua vulalela" e  "Continuação da nossa luta" são algumas canções com as quais Armando Ferreira, Nelson Costa, Vinicius Júnior, Titino Massano, Pitra Neto, Chico Coio, Celino Bonzela e mais tarde Dulce Trindade, Zecax, Alfredo e outros definiram a sua posição na história da canção independentista.
Os Kissanguela, ou Kisangela, como pudemos encontrar em duas capas de discos do grupo, fazia parte das deslocações oficiais do Presidente da República de Angola. Com Mário Silva como vocalista principal, Fató, Tollingas, El Belo, Calabeto, Santos Júnior, Artur Adriano, Tonito, Avozinho, Candinho, Tino dya Kimuezo e outras vozes que marcam a canção revolucionária do MPLA, exaltavam os feitos do Partido-Estado e atacavam os opositores, existentes ou eventuais. Escute-se "MPLA ueia", "Nvunda ku África", "Tua kua fua" e "Ministro gatuno" (uma referência a Samuel Abrigada, ministro das Finanças pela FNLA no Governo de Transição). O nome Kisangela foi atribuido por Elias dya Kimuezo.
Agrupamento Aliança-Fapla Povo. Outra referência e um viveiro de artistas, o Trio da Saudade (David Zé, Urbano de Castro e Artur Nunes) despontou nesta formação que emergiu no maquis e depois estabeleceu-se na urbe integrando músicos de outras formações, como Chico Montenegro, Carlos Timóteo "Calilii", Mauro do Nascimento, Hildebrando de Jesus, Habana Mayor, Nandinho (Nanutu), Massy, Robertinho, Prolétario, Pepetito e Nonó Manuela, dentre outros hoje consagradíssimos.
Poucos hoje relacionam Carlos Burity e Pedrito com a canção política, no entanto eles também deixaram marcas suas nos tempos do fervor revolúcionário. Burity com "Liberdade África" e "Meu povo usa caminhar", enquanto Pedrito com "África" e "Gika" fazem uma ruptura. Carlos Burity tem em "Maria das Bichas" e "João da Graxa" outros marcos no quesito crítica social. Por seu lado Pedrito, em "Militante" e "Senhor Director", critica a corrupção, a falta de coerência e de autoridade, dentre outros males já então vigentes.
Se Toy Salgueiro ganha visibilidade com "Tentativas", que fala das dificuldades para manter o lar, é Santocas que faz uma autêntica virada, optando pela crítica social com fortes laivos de sarcasmo. Depois de se consagrar com os impactantes "Valódia", "Massacre de Kifangondo" e "Heróis serão vingados", recupera o espírito de “Bairro indígena” e surge  revigorado com "Marçal" e "Matrimônio". Importa salientar que, já na época da Dipanda, em “Poder Popular" Santocas corajosamente afirmava: "O poder popular é a causa dessa confusão"...

Bonga: amor e ódio 
Resultado de imagem para Bonga angola 1972Bonga, também conhecido como Zeca do Marçal, o velocista e homem dos Kisueias, onde também despontava Carlos Lamartine, é outra voz que muito cantou em prol da Independência.  O seu disco "Angola 72" espelha um jovem insatisfeito com o estado de coisas: "Balumukeno" é um grito de despertar para a luta contra o jugo colonial. "Paxi ni ngongo", "Mona ki ngi xiça", "Uengi dya Ngola" e os demais temas deste álbum são de consumo obrigatório para a compreensão não apenas da obra de Barceló de Carvalho, como do uso da canção como inspiração de luta. Depois da Independência Bonga representou Angola em vários palcos, até um período de muita frieza das suas relações com o poder instituído em Angola, marcado sobremaneira pelo disco "Reflexão", publicado em finais dos anos 1980, e agravado com a sua participação na campanha eleitoral da UNITA em 1992. Bonga é uma das vozes que mais cantou em prol da Independência, Democracia, Liberdade e outros anseios dos angolanos, através de sátiras ou recados de forma contínua, influenciando assim várias gerações de angolanos.
As mensagens do músicos que cantaram a dipanda com todo o fervor revolucionário tinham um denominador comum, magnificamente sintetizado por Mirol há mais de 43 anos: a terra vai resplandecer. Essa profecia viria a ser tragicamente traída por uma geração de políticos, eventualmente a mesma dos músicos em referência, que apostou em projectos de poder total, à custa da exclusão do outro e da destruição da terra que devia resplandecer.
*Este trabalho foi possível graças à colaboração da directora da discoteca da RNA, Bela de Carvalho, e da dupla de tias Jacinta Hamilton e Filomena Sapalo, além de António Clara e Madalena Alexandre, que muito facilitaram este encontro com as canções da Dipanda.

Fonte. Jornal de Angola 11 de Novembro de 2018