A Banda Maravilha e os cantores Calabeto, Dina Santos e
Robertinho actuam, hoje, a partir das 16h00, no Centro Cultural Zango
das Artes, num concerto de entradas gratuitas, no seguimento de mais uma
edição do projecto “Mais Semba Festival”, produzido pela Onart e
Fundação Sindika Dokolo.
Segundo João Vigário, da organização, a presença dos
artistas no Zango é, também, uma forma de proporcionar arte e cultura
fora dos grandes centros urbanos e aproximar os artistas a um público
que tem poucas ofertas culturais.
A iniciativa é um “ensaio” do que
será o festival anual de Semba, que faz parte das actividades paralelas
da Bienal da Paz, que aconteceu em Setembro, em Luanda.
O festival é uma plataforma cultural da Fundação Sindika Dokolo, que
se consubstancia na produção de eventos que evidenciam o semba e as
variantes deste estilo musical, buscando alcançar a legitimação
identitária do género, no contexto da promoção e divulgação da música
angolana.
Os organizadores pretendem que seja um evento inclusivo e
participativo, considerando o “Mais Semba Festival” como uma plataforma
que emerge como uma proposta de promoção, valorização e estudo dos
sintomas da cultura angolana.
Bonga mostrou, mais uma vez, um talento único em palco, nas últimas
edições do ano do “Show do Mês” e Muzongué da Tradição, em actuações
onde revelou grande capacidade artística e jovialidade, mesmo aos 77
anos, e que vão ficar na memória de quem presenciou e dos ausentes,
pelos relatos.
O cantor, que está em Luanda, desde quarta-feira passada, colocou
“fogo na kangica”, de uma forma literal, sábado, no Centro de Convenções
de Belas (CCB), no fecho da VI temporada do “Show do Mês”, denominado
“Encontro com a Tradição”.
O espectáculo, realizado pela segunda vez fora do Royal Plaza, abriu
“as portas ao público” com o instrumental “Bonguinha”, uma proposta do
guitarrista Betinho Feijó. A viagem não ficou apenas pela música, em
intervalos histórias das vivências entre os dois foram contadas. O
artista Jorge Mulumba também juntou-se à festa, ao ritmo dos
instrumentos tradicionais.
No encontro, que serviu, ainda, para unir
vários segmentos da sociedade, Bonga percorreu temas que marcam o
percurso artístico, cujo marco é o LP “Angola 72”, numa “aula magna” de
música angolana, encerrada com “Jingonça” e um “assalto ao Carnaval”.
O
mesmo tema foi o escolhido para encerrar, no domingo, a última edição
deste ano do Muzongué da Tradição, realizada no Centro Recreativo e
Cultural Kilamba, numa tarde com alinhamento musical mais reduzido, mas
com presença acentuada do público.
A sentir-se em casa e valorizando o espírito das festas dos musseques, Bonga
levou ao antigo Salão Maria da Escrequenha os maiores êxitos da
carreira. “É bom regressar”, disse, no final do espectáculo, que teve
como principais referências temas como “Marika”, “Kisselenguenha”,
“Kamacove”, “Kambuá”, “Sambila”, “Fruta de Vontade” e “Homem do Saco”.
Com
lotação esgotada, esta edição do Muzongué contou, também, com a
participação de Massano Júnior, Lulas da Paixão e Givago, com o
acompanhamento da Banda Movimento. O espectáculo abriu com Mister Kim,
da Banda Movimento, a interpretar temas de Zé Kafala, numa homenagem a
um dos mais destacados trovadores angolanos.
Depois foi a vez de
Dorgam mostrar talento em “Zito Monami”, de Clara Monteiro, e Teddy
Nsingui reviver alguns solos do Instrumental 1º de Maio. Massoxi e
Kintino também actuaram. Embora afastado dos palcos, Massano Júnior
brilhou em temas como “Meninas de Hoje”, “Kizua”, “Anami”, “Balabina” e
“Sunga Sunga”. Já Lulas da Paixão apresentou como proposta “Pepé”,
“António”, “Garan” e “Nga Maka”. O último convidado, Givago, encantou a
plateia com “Avô Teté” e “Ramiro”.
Duas gerações diferentes partilharam o palco, no sábado, para encerrarem
a III temporada dos Duetos N’Avenida, na Casa 70, em Luanda, com as
cantoras Patrícia Faria e Gersy Pegado a unirem as vozes para
homenagear, durante duas horas, Carlos Burity.
Diferente das anteriores propostas, onde os artistas partilham
músicas, neste espectáculo, o último deste ano, as artistas, que
despontaram nas Gingas do Maculusso, interpretaram temas do
homenageado.
Diferente das anteriores propostas, onde os artistas partilham
músicas, neste espectáculo, o último deste ano, as artistas, que
despontaram nas Gingas do Maculusso, interpretaram temas do
homenageado
.
O concerto abriu com “Maria Alucase”. Depois Carlos Burity subiu ao
palco para interpretar “Ilha de Luanda”, sucesso que tem conseguido
ultrapassar gerações. A viagem pela obra do homenageado teve como
prioridade os sucessos dos últimos 20 anos, deixando temas que nos
finais dos anos 1970 e 80 marcaram o artista. A única excepção foi a
inclusão de “Liberdade de África”, num alinhamento onde não constaram
“Especulação”, “Maria das Bichas” e “Zé da Graxa”, temas que na década
de 80 ajudaram a consolidar a carreira de Carlos Burity. O espectáculo
terminou com um sucesso do passado, que também consta na discografia
actual do músico, “Manazinha”.
Porém, êxitos como “Lamento do contratado”, “Tia Joaquina”, “Jingonça
do macaco”, “Minga”, “Mukajiami” e “Malalanza” fizeram parte do
reportório.
Com Lito Graça, na dicanza e coros, Texas e Mayó, nos
solos e baixo, juntou-se Marito Furtado (bateria), Isaú Baptista (solo),
Miquéias Ramiro (teclado) e Djanira Mercedes (coros), da Banda
Maravilha, para dar vida a esta homenagem em que Chalana Dantas não
ficou apenas com a direcção artística, tomou, também, os tambores.
Maneco
Vieira Dias, da direcção da União dos Artistas e Compositores, entregou
o diploma de reconhecimento ao homenageado e destacou o papel e a
importância que teve na afirmação da música angolana. No final, Figueira
Ginga, da Zona Jovem, a organizadora, prometeu regressar em Fevereiro
do próximo ano com o projecto e continuar a prestigiar artistas
nacionais.
O concerto abriu com “Maria Alucase”. Depois Carlos Burity subiu ao
palco para interpretar “Ilha de Luanda”, sucesso que tem conseguido
ultrapassar gerações. A viagem pela obra do homenageado teve como
prioridade os sucessos dos últimos 20 anos, deixando temas que nos
finais dos anos 1970 e 80 marcaram o artista. A única excepção foi a
inclusão de “Liberdade de África”, num alinhamento onde não constaram
“Especulação”, “Maria das Bichas” e “Zé da Graxa”, temas que na década
de 80 ajudaram a consolidar a carreira de Carlos Burity. O espectáculo
terminou com um sucesso do passado, que também consta na discografia
actual do músico, “Manazinha”.
Porém, êxitos como “Lamento do contratado”, “Tia Joaquina”, “Jingonça
do macaco”, “Minga”, “Mukajiami” e “Malalanza” fizeram parte do
reportório.
Com Lito Graça, na dicanza e coros, Texas e Mayó, nos
solos e baixo, juntou-se Marito Furtado (bateria), Isaú Baptista (solo),
Miquéias Ramiro (teclado) e Djanira Mercedes (coros), da Banda
Maravilha, para dar vida a esta homenagem em que Chalana Dantas não
ficou apenas com a direcção artística, tomou, também, os tambores.
Maneco
Vieira Dias, da direcção da União dos Artistas e Compositores, entregou
o diploma de reconhecimento ao homenageado e destacou o papel e a
importância que teve na afirmação da música angolana. No final, Figueira
Ginga, da Zona Jovem, a organizadora, prometeu regressar em Fevereiro
do próximo ano com o projecto e continuar a prestigiar artistas
nacionais.
Cerca de um mês depois do lançamento do seu mais recente
disco De Kaxexe, a 7 de Outubro, Patrícia Faria é a proposta para a edição do
mês de Novembro do Palco do Semba. Ricardo Lemvo foi a última passagem do projecto,
que acontece no Jango da União dos Escritores Angolanos.
Patrícia Faria é uma mulher de múltiplas tarefas, autêntica showoman
do semba, intérprete de sucessos antigos como autor Caroço Quente”, “Kibela”,
“Triste Amargura”, “Zanga Kalunga”, “Eme Kia” “Papa Wa Jimbidila” e “Cama e
mesa” (Pacheco), como os novos temas onde destaca-se “De Kaxexe”, uma versão de
“Maximbonbo”.
A cantora cresceu num ambiente musical, ainda criança fez
parte das Gingas do Maculussu, fazendo com a mesma a transposição para uma
solida carreira no meio musical nacional. Antecederam Kaxexe , os discos Eme
Kya (2003) e Baza Baza (2006).
Paty Faria, como também é conhecida, foi a primeira mulher a
conquistar o Top dos Mais Queridos com o álbum Emé Kya, obra também premiada
como Melhor Produção Discográfica, Voz Feminina do Ano, e Semba do Ano, no Top Rádio Luanda, assim
como o de Melhor Intérprete Feminina no Moda Luanda.
De salientar que em paralelo a carreira musical, tem a Patys
Griff, especializada em trajes africanos e angolanos. Licenciada em Direito é
advogada de profissão, radialista, e recentemente assumiu a liderança da Casa
de Cultura do Rangel Nzinga A Mbandi.
O Palco do Semba é um projecto dos Tios e da Leinunes Áudio
e acontece no primeiro domingo de cada mês. Este ano desfilaram no
evento Ricardo Lemvo, Moniz Almeida e Jojó Gouveira, Robertinho,
Paulo Flores e Tito Paris, Os Jovens do Prenda, Os Kiezos, Kyaku Kiadaff
e Yola
Semedo.
O rapper Phathar Mak realizou, no
passado sábado, no Zango, Viana, um espectáculo, muito bem recebido pelo
público local, em que convidou também Os Tuneza, Calado Show, os BMA e
Rasheed Meduso.
Rapper cria projecto para aproximar os artistas do público
Fotografia: DR
Numa iniciativa conjunta com a produtora Onart, o
espectáculo, realizado no âmbito do projecto “Encontro com a
Comunidade”, teve grande recepção pública, mesmo com o atraso de uma
hora e problemas com o som.
Entre os sucessos do rapper, o destaque foi para “Amizade”, “Grande
Dia”, “My Real Niggaz ”, “Prova dos 9”, “História”, “Respeito” e
“Somente Palavras”, alguns dos quais acompanhados pela banda do artista,
constituída pelo DJ Edson (scratch), KD (baixo), Moisés (teclados),
Nsango (solo), Jack (bateria), Sensei BJS, Toddi e Heróide (coristas).
A
abertura do espectáculo esteve a cargo da dupla BMA, jovens integrantes
do movimento hip hop do Zango, que estão a conquistar espaço no
mercado. O rapper Rasheed Meduso, filho do cantor Kool Klever,
demonstrou que está a seguir os passos do pai, mas com uma linha
própria.
Os Tuneza, um dos grupos convidados mais esperados,
estiveram à altura da expectativa dos fãs. Cage One foi o único artista
anunciado que não
actuou, enquanto o humorista Calado Show, que não constava no cartaz,
conseguiu “roubar” inúmeros aplausos do público. No final, pela
receptividade do público, Os Tuneza e Calado Show mostraram interesse em
voltar a actuar no Zango.
A próxima edição do projecto “Encontro
com a Comunidade” está prevista para 7 de Dezembro, no espaço Aplausos
do Sequele. Para Phathar Mak, é uma oportunidade de aproximar mais os
artistas do público. “Não é um projecto limitado apenas ao
entretenimento. Queremos ir mais além e chamar a atenção das pessoas
para a importância do respeito pela cidadania”, disse o cantor.
A
iniciativa, explicou, é sequência de outra, denominada “Encontro com a
Periferia”, que o ajudou a ser reconhecido pelo Conselho Nacional de
Juventude como o embaixador na luta contra a delinquência juvenil. “O
objectivo é levar artistas de referência ao encontro das comunidades,
num movimento sociocultural inclusivo”, aclarou o cantor, um dos
pioneiros do hip hop angolano.
Filipe Mukenga e Selda, duas vozes
de gerações diferentes, foram as principais atracções de mais uma edição
do projecto Duetos N’Avenida, realizada sábado último, na Casa 70, em
Luanda.
Em duas horas, foi feita uma viagem ao percurso artístico
de Filipe Mukenga, cantor que no início dos anos 80 propôs um estilo
novo ao qual denominou “Nova Música de Angola”, e de Selda, cujo
reconhecimento veio do espaço conquistado nos circuitos de música. Os
artistas Mário Gomes (guitarra solo), Nino Jazz (teclados), Jack
(bateria), Wilder (baixo) e Yasmane Santos( percussão) fizeram o suporte
instrumental. O concerto começou ao som de “Nvula”, inicialmente na voz
de Selda a qual juntou-se, minutos depois, Filipe Mukenga. Depois
das saudações, o público ouviu temas como “Balabina”, “Weza”, “Carnaval
de Março”, “Lemba” e “Yalta”. Durante a actuação, Filipe Mukenga
convidou Katiliana Capindiça, artista que nos últimos dois anos apareceu
no circuito nacional, para juntos interpretarem “Fruto
Maduro”. O dueto prosseguiu entre Filipe Mukenga e Selda em temas
como “Ndilokewa”, “Aquela Rua”, “Angola no Coração”, “Humbi Humbi”,
“Dikixi”, “Eu Vi Luanda”, com a qual encerraram esta edição. O projecto
Duetos N’Avenida regressa, depois desta proposta mais ligada ao afro
jazz, no dia 14 de Dezembro, com o semba, a ganhar vida, nas vozes de
Carlos Burity, Gersy Pegado e Patrícia Faria. O homenageado desta
edição foi o cantor, produtor e compositor Eduardo Sambo, um dos
mentores de Figueira Ginga e Chalana Dantas, como director executivo e
artístico da Zona Jovem. Embora afastado dos palcos, o artista trabalhou
com músicos de referência, como Filipe Zau, André Mingas, Rosa Roque,
Afra Sound Stars e Banda Maravilha. Para a geração mais antiga, “A
Nave”, como é conhecido, é uma referência.
Um outro leque de artistas
desse período, com temas dedicados ao momento histórico, deixaram de
ser difundidos a partir de uma certa altura, tais como: David Zé,
Urbano de Castro, Artur Nunes, Teta Lando e outros, por razões que, nem
mesmo quando o discurso tende a ser de reconciliação, têm explicação.
Quase todo o cidadão de sã consciência nesta época de
celebração nacional espera escutar Mirol, no seu "Independência está a
chegar", a dizer que a terra vai resplandecer e ninguém mais vai chorar
porque o sofrimento terá fim: o famoso grito "Independência" é quase
obrigatório nos anúncios dos festejos do Dia Nacional de Angola, mas
poucos sabem que pertence a Manuel Claudino Manuelito, na altura
baixista dos Kissanguela. Carlos Lamartine em "Ó dipanda wondo tulakiá"
vai na mesma linha do músico invisual Mirol e agradece a Agostinho Neto. É
importante um olhar à sociedade angolana da altura, com os três
movimentos de libertação a tentarem ganhar vantagens. Se o MPLA, segundo
os entendidos, não estava muito forte no campo militar, levava a melhor
no quesito propaganda, tendo a música como arma letal para desmoralizar
os oponentes. Era normal os artistas manifestarem apoio aos
movimentos da sua preferência, tal como os adeptos de um clube de
futebol, apesar de muitos deles, hoje, afirmarem terem sido sempre do
movimento que proclamou a Independência no Largo 1º de Maio, o MPLA,
facto que desconcerta Soky dya Nzenze: "Eles sabem quem são. Olhem para
as obras e facilmente saberão quem sempre esteve na linha da frente da
música de intervenção e os oportunistas." A nossa fonte apresentou um
dado que ajuda a compreender a linha de muitos intervenientes da canção
política, com o surgimento dos grupos políticos e ideológicos
designados como elementos que compunham a Frente Interna do MPLA,
nomeadamente a Organização Comunista de Angola - OCA, os comités Henda e
Amílcar Cabral, o movimento estudantil e, mais tarde, alguns elementos
provenientes dos CIR - Centros de Instrução Revolucionária, que
conceberam a linha de actuação dos artistas e grupos. Como exemplo, do
Instituto Industrial de Luanda basicamente emergiram “Os Angolenses”, já
“Os Kissanguela” eram mais inclinados aos comités juvenis, enquanto o
“Agrupamento Aliança Fapla-Povo” aos CIR. Uma outra corrente de artistas
individuais provenientes de Portugal e de um meio mais urbano era
ligada à OCA. Todos cantavam em prol do MPLA. A Unita teve cantores
simpatizantes seus em Millá Mello, Katchiungo e Poeira; a FNLA também
teve, com destaque para Teta Lando, apesar deste apresentar um discurso
mais integrador. Mas a verdade é que a maioria dos músicos assumia a
camisa vermelha da família MPLA. Soky dya Nzenze realça o seguinte:
“É importante dar a conhecer que antes desta época a música de
contestação ao colono foi marcada com temas como ‘Milhórro’ dos
Kiezos,‘Viva Lusitânia’, de António Paulino, ‘Kimbemba’, de Teta Lando, e
outras”. A fonte acrescenta, no entanto, que o tema "Kinjangu", do
início do Século XX, já lançava a mensagem de contestação e de aspiração
à libertação do jugo colonial. Soky dya Nzenze reforça a relevância de
"Viva Lusitânia", que satiriza a presença do famoso paquete e dos
turistas: "Eles vêm de longe andando na cidade alegres, enquanto eu
estou sem nada”. Segundo Dya Nzenze, algumas pessoas “pensavam que a
canção era de afecto ao regime colonial, exaltando os lusitanos ou a
empresa de transporte, mas não. Era mesmo revolucionária.” O Conjunto
Nzaji deixou a sua impressão digital, reconhece o nosso interlocutor,
referindo-se aos temas “Kaputu”, “Difuimu”, “Deba” e outros gravados na
República da Bulgária nos anos 60. Ruy Mingas com "Monangambé", "Xiami" e
"Muimbu ya Sabalu" (letra de Mário Pinto de Andrade que fala do filho
caçula que foi para São Tomé) integra também o lote de cantores da
libertação. Da parceria com Manuel Rui Monteiro, que resultou no hino
"Angola Avante", tem ainda "Meninos do Huambo", tema que fala das
conquistas da Independência, insinuando que "até as estrelas já são do
povo". Filipe Zau e Filipe Mukenga atingiram as mentes dos mais
pequenos, cantando que os meninos depois do jantar foram para o quintal
cantar e ouvir estórias antigas, num exercício de construção ideológica
do Futuro da Nação. O compositor de "Malalanza", interpretada por
Carlos Burity, diz que o jovem Zecax, pouco citado e tocado nos dias da
celebração da Independência, com “Colono ua Tujiba”, provavelmente
instrumentalizada pelo Luanda Show e lançada depois da morte do
nacionalista Pedro Benge, também deve ser colocada, historicamente, na
primeira linha das canções de intervenção. “Este tema de contestação é
muito forte, um grito para que os colonos deixassem a nossa terra e
recordava amigos assassinados e presos pelo regime salazarista. Depois
do 25 de Abril, a morte de Pedro Benge inspirou vários artistas”,
reforça a nossa fonte.
Mais canções Em
contacto com a discoteca da Rádio Nacional de Angola, numa pesquisa por
concluir, encontramos mais de 500 músicas com título e referência ao 11
de Novembro e à Independência Nacional. Destacamos aqui o Conjunto Bela
Negra, Conjunto Estrela do Povo, de Malanje, liderado por Makú, e a
orquestra Os Malucos; quanto aos artistas individuais mencionamos Prado
Paim, Belita Palma, Mauro Nascimento com “Dipanda dya Ngola”, “Canção do
Homem Novo” e “Cambuta”; Matadidi com “Obrigado Agostinho Neto”, André
Mingas com “Pecado em Novembro”, Rui Mingas com “Mamã Terra”, Carlos
Lamartine "Rumo à Independência” e Joy Artur “Xietu ya Tambula". Mencionamos
ainda Zé Agostinho com “Noite Longa”, Gimba com "Ofeka yetu Ombembwa
(Spínola)”, Nito Nunes com “Ngola Kiluanji”, El Belo com “Ekongelo” e
“Hoje é dia de revolução”, Elias dya Kimuezo com “Dipanda didi diolo
kuiza" e "São Nicolau" e Zé da Onda com “Vitória”. Da longa lista, que
não caberia neste espaço, trazemos para aqui ainda Cajó Pimenta,Tonito,
Artur Adriano, Tanga, Buarque, Camarada Bidon, Zé Viola e Carlos Burity. Passada
a fase da forte carga política, outras composições surgiram e aqui o
destaque vai para "Novembro", uma composição de Carlos Ferreira "Cassé"
interpretada por Eduardo Paim, de que retemos: "Novembro chegou, com o
dia da liberdade"... Importa salientar que deste período, nos estúdios
da RNA podemos encontrar outros registos na mesma linha e nem mesmo os
cantores piôs deixaram de cantar temas da Independência. "Ngola", dos
Kafala Brothers, mostra o lado determinante dos trovadores, com forte
presença da Brigada Manguxi.
Os instrumentais As
referências não ficam apenas pelas vozes. Não é por acaso que "Angola
Popular" é um instrumental dos Kissanguela, com solos de Nito, hoje
artisticamente Belmiro Carlos. O grupo tem ainda o tema "Solos de
Maqui". Outros registos nessa linha são, do agrupamento Os Anjos,
"Angola Rumo ao Socialismo", marcado pelos solos de Jajão, "Avante
Juventude" e "Benguela Libertada", de Boto Trindade, "Brinde", de
Vinicius Júnior, dos Angolenses, e "Rufo da Liberdade", de Zé Keno.
"Não canta política" Waldemar
Bastos foi assertivo ao cantar e eternizar o alerta da "Velha Chica":
"Xê menino, não fala política", seguido do suspiro de alívio: "Já posso
morrer, já vi Angola Independente". No entanto, para quem está
ciente da história da música popular urbana angolana, a vontade de ir
para o além sem o esclarecimento de determinadas narrativas é
preocupante. "Velha Xica", tema do álbum "Estamos Juntos", lançado anos
depois da Independência, pode ajudar na reflexão de um olhar sobre a
namorada Angola, muito e tão bem cantada. O cantor que celebra a
Independência com a realidade vivida pela Velha Xica, preconiza o mesmo
com os ventos da democracia. Curiosamente, Waldemar Bastos há muito que
deixou de cantar a canção "Velha Chica", mas na terra que a anciã viu
finalmente Independente, e que obviamente é também a sua, ele acabou por
conquistar, este ano, o Prémio Nacional de Cultura e Artes na categoria
de Música, talvez um indicador para que "Velha Xica" volte a ser
cantada e ouvida mais vezes na terra que o cantor carrega na muxima.
Discos fundamentais Três
LP que marcam a época em referência e ajudam a compreender o uso e a
função social da música e dos artistas, são "Independência", "Angola Ano
1" e "Mutudi ya ufolo", respectivamente de Teta Lando, Carlos Lamartine
e David Zé. Os discos foram gravados pelo conjunto Os Merengues, na
altura o "dream team" da música angolana, onde pontificavam Carlitos
Vieira Dias, Zé Keno, Zeca Tirilene, Vate Costa e Joãozinho Morgado,
dentre outros instrumentistas afectos à CDA-Companhia de Discos de
Angola, detentora dos Estúdios Norte. Teta Lando - LP Independência.
Com mensagens para a união e o combate ao racismo, presentes em canções
como "Ame o teu irmão", "Angolano segue em frente, "Pele Negra" e "FNLA e
MPLA", este LP foi considerado Disco de Ouro. Nele constam as canções
"Cecília", "Lulendo Mpaxi", "Luvuvamo", "Lembele Lembele", "Poto Poto -
Barro" e "Menina de nove anos". Facto digno de realce e bastante
revelador, na contracapa deste disco está uma imagem de Holden Roberto. Teta
Lando, então com forte inclinação à FNLA, deixou o país depois da
Independência, tendo regressado em 1987 aquando do Fenacult. Mais tarde
tornou-se presidente da UNAC, sendo tido no seio da classe como
bastante conciliador. Com sucessos como "Dipanda wondo tula kiá",
Carlos Lamartine, com "Angola Ano 1", álbum histórico com apenas 100
exemplares prensados, faz um forte apelo à Independência, mas difere do
disco de Teta Lando porque faz uma clara exaltação
aos feitos do MPLA. O artista, no tema "Etu tuana Ngola tua solo kia",
primeiro do lado A, diz que "nós, os filhos de Angola, já escolhemos o
nosso Movimento, que é o MPLA". "Faço-te este apelo, camarada",
"Zambi Zambi", "Muiji imoxi imoxi" ("Um só Povo, Uma só Nação"), "Guia
para a libertação de África" e a comovente "Zuatenu milele ia xikelela"
("Vistam-se de panos pretos"), completam o lado A. No lado B encontramos
"Ngola Kiluanji", "Acorda Lumumba", "Ngana Ngana fuma ia diala
ngongo", "Ene ando builée" ("Eles hão-de se cansar"), "Ene adia losso"
("Eles querem comer tudo") e "Uengi bualaié". Um outro tema que
marca o cancioneiro de Carlos Lamartine, na altura - 1975/1976 - também
membro da organização juvenil do MPLA, é "Pala ki nu a bessa ó muxima",
um hino à liberdade, como é possível auferir numa tradução livre de
Soky dya Zenze, que simplificou do seguinte modo: "Para acalentar os
vossos corações, venho cantar aqui, não preciso do vosso dinheiro e
estou aqui sentado para que digam que esta vida não é uma brincadeira.
Paguem as vossas dívidas, olha quem desperta-vos é vosso amigo".
Trio da Saudade Por
limitação de espaço, do considerado Trio da Saudade optamos pelo
impactante LP "Mutudi ya Ufolo" ("Viúva da Liberdade"), de David Zé, um
mukuaxi, expressão patriótica que significava "dono" da terra. "Esta
palavra também era uma espécie de senha, aqui em Luanda, para os jovens
das zonas libertadas como o Cazenga, Rangel, Golfe, Calemba e mais tarde
o Sambizanga", segundo Dya Zenze. David Zé, depois de cimentar a
sua posição no meio musical, sendo dos mais requisitados para concertos,
com vários singles lançados, no limiar da Independência optou também
pela música de cariz político-revolucionário. Nesta obra, "Mutudi ya
Ufolo", encontramos "Mana ku dile", "As cinco nações", "Ngongo nua
Ngola", "Tribalismo", "Ufolo", "Katete njila", "A luta continua", "Mona
ku jimbe manhenu", "Undengue Uami", "Nguma" e "Kamba djami". Um grande
mobilizador de massas, daí o facto de ter sido comissário político das
ex-FAPLA, esteve na origem do Agrupamento Aliança Fapla-Povo, conjunto
que produziu todo um manancial de temas musicais com forte carga
ideológica de apoio ao regime vigente. David Zé, Urbano de Castro e
Artur Nunes, com a sua arte musical, conquistaram não apenas a população
mas também a classe política dirigente com temas como "Revolução de
Angola", "Ua ué Muangola", dentre outros. O trio também deixou marcas no
início do processo de transição para a independência, apelando à união
dos movimentos de libertação nacional e depois arremessando balanços
harmônicos aos oponentes do MPLA. As suas mortes trágicas no processo
subsequente ao 27 de Maio de 1977 não podem ser apenas consideradas
impactantes na canção revolucionária, mas também como um revés com
efeitos duradouros na música, em particular, e na cultura angolana, em
geral. David Zé, Artur Nunes e Urbano de Castro, antes da fase
FAPLA-Povo ainda apresentam nas suas letras alguns rasgos a propor a
unidade entre os três movimentos. Em "Guerrilheiro", David Zé canta: "Se
ês do MPLA interessa a todo Mundo, se ês da FNLA também já interessa a
alguém e se ês da UNITA tambem já interessa a alguém, um só Povo uma só
Nação, abaixo a desunião". Urbano de Castro em "Rumba Negra" e
"Angola África" evidenciam igualmente este lado, de acordo com Soky dya
Nzenze. "Com o slogan 'Urbanito angolano' e a resistência ao uso da
identificação portuguesa, Urbano de Castro quando jovem já era uma
pessoa politicamente consciente, com carácter, convicto e decidido",
realça o nosso interlocutor.
"Obrigado Camarada" Matadidi
Mário não apenas cantou a Independência e a fase da revolução. Foi um
revolucionário no cenário musical angolano. O nosso “James Brown from
Kinshasa”, com a sua Orquestra Inter-Palanca, expressou em temas como
"Obrigado, Agostinho Neto (11 de Novembro)" e "Volta Camarada", a
mensagem mobilizadora para os angolanos residentes no Zaire (actual
RDC), e não só. "Bakokosa po bakosa" ("Mentir por mentir") e tantas
outras canções marcam este período. O seu companheiro Diana Spray, com
"Angola Nova" e "Valódia", também não pode ser esquecido. Santocas,
com "Massacre de Kifangondo" e "Heróis serão vingados", não esconde o
seu lado de cantor-militante do MPLA. Santos Júnior, um outro grande
senhor da canção revolucionária, consolidou a sua posição no conjunto
Kisanguela com temas como "Estrangeiro", "Atu mu jiba", e outros. "Os
Angolenses", que surgiram após o 25 de Abril de 1974 na Escola
Industrial Oliveira Salazar, também tem uma posição marcante na música
feita nos primórdios da Angola independente. "África do Magreb ao
Zimbabwe", que fala da implementação do poder popular em África e o fim
do imperialismo, "Alegria pela via escolhida", "Obrigado Camarada
Presidente", "Obscurantismo e miséria jamais", "Internacionalistas",
"Mua Ngola mua vulalela" e "Continuação da nossa luta" são algumas
canções com as quais Armando Ferreira, Nelson Costa, Vinicius Júnior,
Titino Massano, Pitra Neto, Chico Coio, Celino Bonzela e mais tarde
Dulce Trindade, Zecax, Alfredo e outros definiram a sua posição na
história da canção independentista. Os Kissanguela, ou Kisangela,
como pudemos encontrar em duas capas de discos do grupo, fazia parte das
deslocações oficiais do Presidente da República de Angola. Com Mário
Silva como vocalista principal, Fató, Tollingas, El Belo, Calabeto,
Santos Júnior, Artur Adriano, Tonito, Avozinho, Candinho, Tino dya
Kimuezo e outras vozes que marcam a canção revolucionária do MPLA,
exaltavam os feitos do Partido-Estado e atacavam os opositores,
existentes ou eventuais. Escute-se "MPLA ueia", "Nvunda ku África", "Tua
kua fua" e "Ministro gatuno" (uma referência a Samuel Abrigada,
ministro das Finanças pela FNLA no Governo de Transição). O nome
Kisangela foi atribuido por Elias dya Kimuezo. Agrupamento
Aliança-Fapla Povo. Outra referência e um viveiro de artistas, o Trio da
Saudade (David Zé, Urbano de Castro e Artur Nunes) despontou nesta
formação que emergiu no maquis e depois estabeleceu-se na urbe
integrando músicos de outras formações, como Chico Montenegro, Carlos
Timóteo "Calilii", Mauro do Nascimento, Hildebrando de Jesus, Habana
Mayor, Nandinho (Nanutu), Massy, Robertinho, Prolétario, Pepetito e Nonó
Manuela, dentre outros hoje consagradíssimos. Poucos hoje
relacionam Carlos Burity e Pedrito com a canção política, no entanto
eles também deixaram marcas suas nos tempos do fervor revolúcionário.
Burity com "Liberdade África" e "Meu povo usa caminhar", enquanto
Pedrito com "África" e "Gika" fazem uma ruptura. Carlos Burity tem em
"Maria das Bichas" e "João da Graxa" outros marcos no quesito crítica
social. Por seu lado Pedrito, em "Militante" e "Senhor Director",
critica a corrupção, a falta de coerência e de autoridade, dentre outros
males já então vigentes. Se Toy Salgueiro ganha visibilidade com
"Tentativas", que fala das dificuldades para manter o lar, é Santocas
que faz uma autêntica virada, optando pela crítica social com fortes
laivos de sarcasmo. Depois de se consagrar com os impactantes "Valódia",
"Massacre de Kifangondo" e "Heróis serão vingados", recupera o espírito
de “Bairro indígena” e surge revigorado com "Marçal" e "Matrimônio".
Importa salientar que, já na época da Dipanda, em “Poder Popular"
Santocas corajosamente afirmava: "O poder popular é a causa dessa
confusão"...
Bonga: amor e ódio Bonga,
também conhecido como Zeca do Marçal, o velocista e homem dos Kisueias,
onde também despontava Carlos Lamartine, é outra voz que muito cantou em
prol da Independência. O seu disco "Angola 72" espelha um jovem
insatisfeito com o estado de coisas: "Balumukeno" é um grito de
despertar para a luta contra o jugo colonial. "Paxi ni ngongo", "Mona ki
ngi xiça", "Uengi dya Ngola" e os demais temas deste álbum são de
consumo obrigatório para a compreensão não apenas da obra de Barceló de
Carvalho, como do uso da canção como inspiração de luta. Depois da
Independência Bonga representou Angola em vários palcos, até um período
de muita frieza das suas relações com o poder instituído em Angola,
marcado sobremaneira pelo disco "Reflexão", publicado em finais dos anos
1980, e agravado com a sua participação na campanha eleitoral da UNITA
em 1992. Bonga é uma das vozes que mais cantou em prol da Independência,
Democracia, Liberdade e outros anseios dos angolanos, através de
sátiras ou recados de forma contínua, influenciando assim várias
gerações de angolanos. As mensagens do músicos que cantaram a
dipanda com todo o fervor revolucionário tinham um denominador comum,
magnificamente sintetizado por Mirol há mais de 43 anos: a terra vai
resplandecer. Essa profecia viria a ser tragicamente traída por uma
geração de políticos, eventualmente a mesma dos músicos em referência,
que apostou em projectos de poder total, à custa da exclusão do outro e
da destruição da terra que devia resplandecer. *Este
trabalho foi possível graças à colaboração da directora da discoteca da
RNA, Bela de Carvalho, e da dupla de tias Jacinta Hamilton e Filomena
Sapalo, além de António Clara e Madalena Alexandre, que muito
facilitaram este encontro com as canções da Dipanda.
Importante
figura da cena musical angolana, Massano Júnior celebrou mais um
aniversário junto de amigos e familiares. O homem do Marçal nasceu no
dia 10 de Novembro de 1948. Os seus aficcionados, desde Abril deste ano,
mês em que foi lançado, perguntam invariavelmente: onde encontrar o
álbum "Kizua"? O caderno Fim-de-Semana esteve à conversa com Massano
Júnior e começou logo pela interpelação sobre o "paradeiro" da sua obra
discográfica. O músico, com uma postura aberta, respondeu sem rodeios a
todas as perguntas. Convidamos o caro leitor a mergulhar um pouco, com
Massano Júnior, na história da música angolana
Massano Júnior, compositor, percussionista e grande impulsionador da música popular angolana
(Foto: D.R.)
Em Abril lançou “Kizua”, muito procurado e solicitado, que
marca o seu regresso discográfico. Quais as razões da falta de
disponibilidade da obra no mercado?
O disco foi uma iniciativa de meus familiares, que fizeram todos os
esforços no sentido de materializar a gravação. Eu apenas procurei
seleccionar os músicos da minha conveniência, com a ajuda do Dulce
Trindade. Os meus familiares recorreram ao Jorge Cervantes, que esteve
aqui e gravou nos estúdios Marimba.
É caso para dizer que o disco “Kizua” também apareceu de caxexe…
(Risos) Está sob responsabilidade dos meus familiares. Eles adoptaram
uma política em relação ao disco que eu desconheço e eu prefiro
manter-me a espera de outros desenvolvimentos.
“Kizua” é um filho que não está sob sua responsabilidade?
Está entregue em muito boas mãos. Eles estão a dar o seu melhor.
Quanto à distribuição só eles sabem, mas vou ter de estar um pouco mais
por dentro, para satisfazer os pedidos. Aos meus admiradores prometo que
iremos agilizar o processo, não aguento mais as solicitações e as
exigências que me são feitas.
Olhando para a produção do disco, de facto, a sua família esteve muito envolvida. A que se deveu isso?
Sou o patriarca dos Massano e sempre tive uma boa relação com os meus
familiares. Isso até está reflectido na canção “Anami”. Perdi os meus
pais cedo e, como mais-velho, tive de cuidar de todos, trabalhar duro.
Talvez por isso o gesto deles. E também por isso não estou preocupado
com as questões administrativas. Eles são pessoas suficientemente
formadas, tudo o que sou também devo aos meus filhos e irmãos. Eles
organizaram a apresentação do lançamento do disco e ofereceram aos
presentes.
O que podemos encontrar no álbum?
Apenas recordações de temas antigos que marcaram a minha carreira. No
próximo, que estou a preparar, penso apresentar temas novos, porque
nunca deixei de compor. Isto está na alma…
E “Minga” é o tema de abertura do disco que também retoma “Anami”…
Sim. “Minga” está sem aquele toque do órgão do Tony Galvão, mas penso
que está com o mesmo sentimento. O tema “Anami” é dedicado aos meus
filhos. Foi numa época em que acabava de chegar do exterior, depois de os
ter deixado. A vida estava difícil e eu tentando estabelecer-me…
Falando em “Anami”, há tempos o jornalista Gilberto Júnior,
na rubrica “Ripiti”, do “Poeira no Quintal” da RNA, colocou a tocar uma
das primeiras, e pouco conhecida, versão deste tema com andamento
reggae…
Sim, foi feita no tempo do Instrumental 1º de Maio. Os arranjos foram
do Teddy e do Mogue. O Instrumental 1º de Maio era uma formação
versátil e tocava tudo.
Assim como o seu lado sentimental…
Sim. Esta é a minha marca melódica, mas também posso sair dela. Tenho canções mais dançantes como “Sunga Sunga”.
Músicas novas? E com quem vai trabalhar?
Mais uma vez com o Dulce Trindade, que é um músico que eu admiro.
É impressão nossa ou está sempre rodeado por músicos do Marçal, Rangel e Bairro Operário? Os do Prenda não contam?
Vocês gostam de problemas. O Zé Keno passou pelos Africa Show e eu
cantei numa homenagem aos Jovens do Prenda. Pode parecer coincidência. O
Zeca Tirilene é uma sumidade, toquei muitos anos com ele e grande parte
dos meus sucessos têm o seu toque.
Aquando da apresentação do seu disco, outros artistas interpretaram as suas músicas…
Mas eu cantei quatro músicas. Como a produção esteve a cargo do Dionísio Rocha, eu tive que respeitar.
O que mais temos nesta obra? Tirando a parte musical, consta um DVD
produzido pelo incansável Nguxi dos Santos, que também fez a cobertura,
pela Internet, do lançamento do disco.
Falar de Massano Júnior remete-nos ao movimento cultural do
tempo das turmas em bairros como Rangel, Marçal, Operário e outros. Como
foi que tudo começou com o miúdo do Marçal?
Fui inspirado pelo Mangololo, que era um grande tamborista. Pertenci à
turma dos Vagabundos do Bairro Marçal, com o Zé Maria, Victor da Poupa
Russa, Zé Moranha, Kavulanga e outros, que infelizmente já morreram.
Depois juntei-me ao Kipuca e formei Os Kipukas e os Seus Malambas. Em
1967 Dionísio Rocha foi buscar-me ao Rangel, onde morava, para
participar nos Negoleiros do Ritmo, em 1968. Posteriormente entro para a
vida militar e formo então o África Show.
Uma curiosidade.
Os Negoleiros do Ritmo tinham como tamborista o grande Joãozinho
Morgado e Massano Júnior era a outra fera. Poucos imaginam que tenham
partilhado os tambores no mesmo grupo e na mesma época?
Parece mentira, mas é verdade. Formámos uma boa parelha e
entendíamo-nos muito bem. Quem sabe voltaremos a repetir para a actual
geração…(risos).
É incontornável falarmos do África Show…
Sim. Actualmente tem dois sobreviventes, eu e o Zeca Tirilene. Nós
introduzimos o órgão na música angolana. Teta Lando, Tony Galvão e
Belmiro Carlos são nomes que passaram pelo África Show.
É verdade que o África Show tinha um outro tipo de público e que apenas tocava no asfalto?
(Foto: D.R.)
Infelizmente algumas pessoas diziam que éramos da elite, mas nós
tocávamos em todo o lado, Sambizanga, Rangel, enfim. Mas éramos assim
rotulados. Éramos todos do Marçal e do Rangel e não sei qual seria o mal
de levarmos a nossa música para o asfalto. Penso que havia toda a
necessidade, para os portugueses, terem contacto com os nossos ritmos.
Olha que já naquela altura o Elias dya Kimuezo era o baluarte, por isso
procurávamos exportar a nossa música para o outro lado. O África Show
também teve uma forte componente de grupo de acompanhamento, por
exemplo, com o Zé Viola. E outros.
Enquanto isso, o tamborista Massano Júnior também se destacou como um grande intérprete…
Exactamente, por causa do espiritual angolano…
Espiritual angolano?
Tudo por uma questão sentimental. Quando comecei a cantar acabava de
perder a minha sogra, Minga, e é assim que a minha primeira composição
foi dedicada a ela.
Neste conjunto Massano Júnior, com um passado bem assente na música
angolana, junta-se a instrumentistas de uma escola diferente, a do então
Zaire. Como foi a adaptação destes aos nossos ritmos? Eram músicos
excelentes e dedicados.
Por exemplo, hoje não se encontra um solista como o Teddy Nsingi, nem
um baixista como o Mogue. São casos raros. Olha que nos grandes
concertos deste país o Teddy é uma presença constante. Ele é um
estudioso da música angolana.
E aquela imagem do Massano Júnior com os quatro tambores em palco, era apenas estilo?
Não. Eu tocava mesmo os quatro tambores e ainda toco hoje, se for necessário.
Em que circunstâncias entra no Instrumental 1º de Maio?
Quando regresso ao país o Sabú Dinis, na altura, era um responsável da
UNTA. Ele fez a selecção dos músicos, conhecia o meu passado como
artista e a situação em que me encontrava.
É engraçado como as mudanças no país também mudaram a designação do grupo…
Passámos para Semba África porque eram muitos elementos no Instrumental 1º de Maio.
nestes espaços.
“Meninas de hoje”, um dos temas mais marcantes de Massano Júnior,
chegou a esta nova geração pela versão de Caló Pascoal. O que achou da
concepção rítmica? Não fugiu ao espírito e não criou grandes invenções.
Ele é um artista versátil, sinceramente senti-me lisonjeado. Coisas
desta natureza merecem o meu apoio.
Parece que é da mesma opinião do seu falecido amigo e companheiro
Teta Lando, quanto às versões, feitas pelos jovens, de sucessos do
passado. Isso mesmo quando elas são feitas sem uma comunicação prévia?
Penso que não custa nada pedir a autorização. Agora, quanto a
interpretar a minha música, podem interpretar livremente, mas, repito,
não custa nada pedir. Por outra, saibam que ninguém está proibido de
cantar a música do outro, há apenas procedimentos a seguir, como o facto
de anunciar o autor, e outros, à luz dos direitos autorais.
Há jovens que quase vivem de sucessos de canções antigas. Como vê isto?
José
Massano Júnior: “Hoje não se encontra um solista como o Teddy Nsingi,
nem um baixista como o Mogue. São casos raros. Olha que nos grandes
concertos deste país o Teddy é uma presença constante. Ele é um
estudioso da música angolana”. (Foto: D.R.)
Também tem o seu lado bom. Olha que, por vezes, dão-nos trabalho e
trazem-nos para um público novo. Dão a conhecer artistas e canções que
os mais novos, de outro modo, dificilmente conheceriam, ou não
conheceriam mesmo. É também assim noutras paragens. Mas é lógico que
devem criar bastante. Olha, faço uma vénia aqui ao Yuri da Cunha, que
pegou em temas de Artur Nunes e os pôs novamente na ribalta. É louvável e
merece todo o nosso elogio. Jovens como o Yuri da Cunha estão a
levantar defuntos.
Então a nossa música está no bom caminho?
Massano Júnior, sobre a UNAC-SA:
“É uma instituição pobre e só Deus sabe como encontrei aquilo. Usei
recursos próprios enquanto aguardávamos a verba, o orçamento que o
Estado dá através do Ministério da Cultura, que não chega. Com a ambição
de meia dúzia de indivíduos chegámos a esta situação, e lá até existem
pessoas que nem sequer são artistas. Eu sempre fiz parte da UNAC e
passei à presidência à luz dos estatutos, com a saída do presidente
eleito, o Dr Arnaldo Calado. Gostaria de referir que o Belmiro Carlos
fez muito pela instituição”. (Foto: D.R.)
Acho que sim. Nos aspectos técnicos a juventude tem feito coisas
interessantes na música angolana. É preciso que tenhamos a coragem de
dizer que sem os jovens músicos isto não vai sobreviver, não seremos
apenas nós, artistas antigos, a fazer isto.
Mas, kota Massano, quando olhamos para o panorama vemos que existem
pouquíssimos executantes de dikanza e de tambores, instrumentistas que
são determinantes, não obstante o grande numero de intérpretes…
Sim, são a base da nossa música. A dikanza praticamente desapareceu,
ela que já era um instrumento frágil. Há aí uma nova geração de
tamboristas que é de se lhes tirar o chapéu, como o Correia da Banda
Movimento e o Chico Santos, Recordo que o Julinho quase já não toca, o
Joãozinho Morgado continua no activo e eu às vezes toco… Apesar deste
quadro, sou positivo.
Mesmo a contragosto, a UNAC não tem como não entrar nesta conversa…
Sim. Infelizmente optei por afastar-me da direcção, porque sou um
indivíduo que não gosta de confusões, não que eu fuja à luta mas prefiro
evitar certas coisas.
É uma instituição pobre e só Deus sabe como encontrei aquilo. Usei
recursos próprios enquanto aguardávamos a verba, o orçamento que o
Estado dá através do Ministério da Cultura, que não chega. Com a ambição
de meia dúzia de indivíduos chegámos a esta situação, e lá até existem
pessoas que nem sequer são artistas. Eu sempre fiz parte da UNAC e
passei à presidência à luz dos estatutos, com a saída do presidente
eleito, o Dr Arnaldo Calado. Gostaria de referir que o Belmiro Carlos
fez muito pela instituição.
Mais uma vez, obrigado pela disponibilidade…
Eu é que agradeço. Afirmo que aceitei abrir-me porque tive boas
referências tuas. Antes falei com alguns amigos que me disseram que
valia a pena conversar contigo. Também gosto dos destaques do caderno
Fim-de-Semana do Jornal de Angola. Estarei sempre à vossa disposição.
“Gosta de congregar e mitigar sofrimento”
” Kizua” não é apenas um trabalho áudio. A obra está acompanhada por
um DVD produzido por Nguxi dos Santos, onde Massano Júnior, familiares e
colegas falam do seu percurso. Do documentário, apresentamos aqui
alguns depoimentos, onde os intervenientes não falam apenas do autor,
mas ajudam a compreender o movimento cultural envolvente.
Massano Júnior – “Fiz os meus estudos no Lobito. De
regresso a Luanda instalei-me no Marçal… Participava nos recitais
organizados pela Albina Assis e ganhava sempre… Fui convidado pelo
Dionísio Rocha para substituir o Joãozinho nos Negoleiros do Ritmo e
começo a ver uma luz no fundo do túnel na minha vida musical… Recebi um
convite do Duo Ouro Negro e, na companhia de Carlitos Vieira Dias e do
baixista Mário Bento, participamos na revista Blackground Internacional,
uma companhia de teatro. Depois regresso e crio o África Show… Muitos
não queriam a introdução do órgão, mas eu sempre disse que a música
devia evoluir e que era necessária a introdução de instrumentos
modernos… Eu era tratado como o espiritual e o África Show o conjunto
espiritual angolano.”
General João Pereira Massano (irmão) – “Perdi o pai
muito cedo e ele cuidou de mim, é o único pai que tive… Ele é o pilar em
que eu sempre me revi, é um exemplo. Estou com ele e com ele vou até às
últimas consequências.”
Dionísio Rocha (músico) – “Ele cria o África Show
numa fase em que os elementos dos Negoleiros vão para a tropa. Nessa
época de pausa, ele forma o seu próprio conjunto.”
Carlos Lamartine (músico e compositor) – Massano
quando chegou do Lobito estava interessado no movimento cultural… O
África Show era um conjunto modernizado.”
Manuelito (músico) – “Ele funda o conjunto com
intenção de criar um estilo novo… Ele preferia espaços onde pudessem
compreender a interpretação do reportório do grupo.”
Santos Júnior (músico) “Pertencemos ao grupo
Estrelas Negras… Ele ajudou muito os elementos do África Show, já tinha
um certo protagonismo junto das casas de equipamento musical, foi ele
que adquiriu o primeiro aparelho do grupo. Para segurar os membros,
comprava motorizadas para se deslocarem aos recintos de espectáculos…
Tocava com os pés, a cabeça… Era chamado Rei Massano das Tumbas…”
Galiano Neto (músico) “É importante que indivíduos
como Massano gravem e deixem obras, porque não são muitos os que ainda
podem deixar-nos o legado e a verdade da música angolana.”
Dom Caetano (músico) – “Gosta de congregar, de apaziguar, gosta de mitigar sofrimento.”
Caló Pascoal (músico) Foi importante estar junto com
Massano e sentir a alma do autor… Eu pretendia que ele interpretasse a
música “Meninas de hoje”. Levei-lhe a gravação com a minha voz-guia e
ele preferiu que esta ficasse.” (Jornal de Angola)
Duas noites de escangalho, com Ary
no palco do Show do Mês, deixaram os “showistas” rendidos ao seu perfume
musical. O roteiro musical começou com “Paga que paga”, que fala do
indivíduo que era bom pagante fora de casa enquanto os filhos no lar
nada tinham, e encerrou com o tema sobre violência doméstica “Betinho”,
com outros, pelo meio, a destaparem outras vivências do quotidiano.
Fotografia: DR
A importância de uma apresentação familiar no
relacionamento esteve patente na música “Tónico” e o ciúme e o medo em
“Não me faças desistir”. Duas das primeiras canções da carreira de Ary
não “escaparam”: “Meu grande amor” e “Não pergunta muito”, também
conhecida por “Meu patrão”, proporcionaram um recuo de cerca de uma
década.
Mig, convidado, fez uma canjinha no seu grande sucesso “Maka mami”.
Ary, vestida a bessangana, devidamente “produzida” pelo grupo
carnavalesco União Mundo da Ilha, partilhou também o palco com os Nguami
Maka, grupo de música ancestral, que deram o seu toque típico em
“Nguxi” e “Manazinha”, dois temas muito conhecidos nas vozes de Belita
Palma e Dina Santos. Acácio pisou também o palco e, sem a companhia
de Ary, brindou o público com “Siluvangui” e “Abigbedoto”, adaptações de
temas africanos que conquistaram as pistas angolanas. Ary, de regresso
ao palco, revisitou temas de outros, nomeadamente “Tá amarrado”,
composição de Kintino, “Deception” de Lutchiana Mabulo e “Despedida de
lar”, de Beto Cruz. Seguiram-se momentos em que Ary recuperou músicas
que definiram a sua carreira: “Monami”, “Mona kinguixi” e “Candinha”,
esta original de David Zé, que era a canção de ninar do filho da
cantora. A interpretação de “Nem às paredes confesso”, “Para uso
exclusivo” e “Amor roubado”, ou seja, o fado de Amália Rodrigues, o
samba de Alcione e a balada do moçambicano Guilherme Silva, provou a
versatilidade de Ary. O tema “Assim é que é” teve uma recepção
tímida por parte da plateia, que reagiu de modo diferente em relação aos
sucessos “Escangalha”, “Carta de amor” e “Funge na cachupa”, cantados
em uníssono e com
forte vibração. Na primeira noite era visível o esforço da artista
para ajustar-se ao formalismo da sala, “kanjonjando” o seu lado
irreverente. Mas na recta final surgiu o momento, como diriam os
brasileiros, “liberou geral”, com muita festa e espontaneidade, as
marcas da actuação de Ary: a miscelânea que juntou “Ngapa” dos Irmãos
Almeida, “Esse madié” de Eduardo Paim e “Betinho” da própria Ary, não
deixou ninguém indiferente. Yark Spin foi o solista em destaque, na
ausência do Mestre Teddy. Pepelo fez o que habitualmente tem sido
responsabilidade de Yark Spin e também solou em alguns temas, numa banda
onde Mayo Bass preencheu as cinco cordas de Mias Galheta, o principal
baixista do Show do Mês. Os jovens Benny nos teclados, Alexandre na
percussão, o trio dos coros Raquel Lisboa, Neide da Luz e Tchilo, a
secção de cordas, e Jack na bateria, comprovaram a aposta da produtora
Nova Energia em jovens instrumentistas, sob o olhar atento do experiente
percussionista Xico Santos e supervisão do trio de sopristas cubanos.
Constatação Não é fácil montar um concerto com uma artista com
tantos sucessos e parcerias marcantes. Titica partilhou criativamente
com Ary “Pelo menos 50”, Baló Januário produziu “Papá fugiu”, que
consagrou Ary ao fazê-la conquistar, pela segunda vez, o Top dos Mais
Queridos. Heavy C foi determinante na carreira da musa ao assinar
sucessos como, por exemplo, “Não me faças desistir”. Ary fez dueto com
Yuri da Cunha em “Não pergunta muito”. Tudo isso e as parcerias da
cantora, em estúdio ou em palco, com Puto Português, Karina Santos,
Paulo Matomina, Kyaku Kyadaff, e outros, dão prova da sua extrema
sociabilidade e extroversão. Que tem reflexos, naturalmente, na
diversidade, abertura e plasticidade da marca Ary. A artista tem os seguintes discos publicados: “Sem substituição”, “Crescida mas ao meu jeito” e “10”.Fonte- Jornal de Angola